A França se prepara nesta sexta-feira (27) para prestar uma homenagem a Jacques Chirac, no dia seguinte à morte, aos 86 anos, do ex-chefe de Estado, mais popular do que nunca desde o final de sua longa carreira política, coroada por 12 anos no Eliseu.
Em homenagem à memória do ex-chefe de Estado, uma cerimônia popular, na presença da família, ocorrerá no domingo (29), no início da tarde, antes de um dia de luto nacional decretado na segunda-feira (30), marcado por uma missa solene e por um minuto de silêncio nas administrações e escolas.
Essa homenagem está ligada à "forte relação de Jacques Chirac com os franceses. Todos os que o amavam poderão vir" para se despedir, disse à AFP seu genro Frédéric Salat-Baroux.
O ex-presidente será enterrado, no dia seguinte, no cemitério de Montparnasse, ao lado de sua filha Laurence, que morreu em abril de 2016, acrescentou, de acordo com os desejos de sua esposa Bernadette.
Jacques Chirac "entra na História e fará falta para todos nós", concluiu o presidente Emmanuel Macron na quinta-feira à noite, ao final de um discurso televisionado.
No pronunciamento, Macron lembrou a ação de seu antecessor, o arauto de um "França independente e orgulhosa, capaz de se levantar contra uma intervenção militar injustificada, quando recusou em 2003 a invasão do Iraque sem mandato das Nações Unidas".
Quase 700 pessoas foram na quinta-feira à noite ao palácio presidencial do Eliseu para assinar o livro de ouro colocado no vestíbulo, em frente a um grande retrato do ex-chefe de Estado.
Doente há muitos anos, o ex-chefe de Estado morreu "muito pacificamente, sem sofrer" e cercado por sua família na manhã de quinta-feira em sua casa, no centro de Paris. Com ele, vai-se uma das grandes figuras da direita francesa.
"Jacques Chirac é mais um estilo do que um balanço", estimou o cientista político Pascal Perrineau, lembrando as considerações de um de seus ex-ministros, Philippe Séguin, segundo as quais ele era "um Don Juan da política, que preferia a conquista do poder a seu exercício".
Uma opinião compartilhada pelo historiador Jean Garrigues: "Foi sua personalidade que lhe deu popularidade, mas ele não tomou muitas decisões quando era presidente. Não se pode dizer que ele realmente transformou a França".
Apesar das evoluções, por vezes sinuosas, de sua linha política, permanecem, no entanto, algumas constantes: a rejeição intransigente da extrema direita, a preocupação com a coesão nacional, uma abordagem gaullista do papel internacional da França, vista como um poder de equilíbrio.
Líderes de todo mundo reagiram ao falecimento, alguns recordando com emoção sua amizade por quem presidiu a França de 1995 a 2007.
A chanceler alemã, Angela Merkel, elogiou "um parceiro e amigo formidável", e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, considerou que a Europa "perdeu uma de suas principais figuras". O presidente chinês, Xi Jinping, referiu-se a um "velho amigo da China".
A presidência de Jacques Chirac permanecerá marcada por seu "não" em 2003 à guerra no Iraque, pelo fim do recrutamento militar, pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado francês por crimes nazistas e pelo alerta diante da degradação ambiental ("nossa casa queima"), na Cúpula da Terra de 2002.
Em 2007, enfraquecido por um AVC sofrido dois anos antes, viu seu ex-ministro e rival Nicolas Sarkozy triunfar.
"Perda de memória", "ausências", surdez: Jacques Chirac passou a aparecer cada vez menos em público.
Especialmente popular depois que deixou o poder, Jacques Chirac sofreu derrotas amargas, como em 1997, quando sua dissolução da Assembleia Nacional provocou um revés humilhante da direita.
Ele também foi pego pela Justiça em 2011, tornando-se o primeiro ex-chefe do Estado francês condenado, a dois anos de prisão com sursis, por um caso de empregos fantasma na prefeitura de Paris.
Jacques Chirac vivia em Paris com sua mulher, Bernadette. Teve duas filhas: Laurence, anoréxica desde a juventude, que morreu em abril de 2016, e Claude, que era sua assessora de comunicação.
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