Um empresário foi detido em Boa Vista (Roraima) suspeito de submeter imigrantes venezuelanos a condições de trabalho "análogas à escravidão" e tráfico de mulheres dessa nacionalidade para exploração sexual, informou a Polícia Federal nesta quarta-feira.
O suspeito foi detido na véspera na rodoviária da capital de Roraima, estado que reúne a maior quantidade de imigrantes venezuelanos que chegam ao país fugindo da grave crise econômica e social que atinge o país vizinho. A prisão ocorreu quando ele tentava viajar para São Paulo.
A operação terminou nesta quarta-feira com o resgate de oito venezuelanos em Pacaraima, pequena cidade na fronteira entre ambos países e a 215 km de Boa Vista.
De acordo com investigações preliminares, os imigrantes, adultos e adolescentes, trabalhavam 12 horas por dia na construção civil com uma remuneração diária entre cinco e dez reais.
Além do pagamento muito abaixo do normal, não tinham direito a folgas e eram descontados os gastos por alimentação e eletricidade, indicou a PF.
Viviam também em barracos improvisados "em condições degradantes", sem banheiro ou água potável, informou o delegado Igor Chagas.
"As investigações apontam que realmente houve o tráfico de pessoas para outros estados com o intuito de serem submetidos a uma condição ao trabalho que se assemelha ao de escravo e indícios de tráfico relacionado à exploração sexual", acrescentou o delegado.
Entre as pertennces apreendidos com o suspeito estavam contratos informais dos explorados e uma folha com o título "normas de trabalho", que acredita-se que eram aplicadas nos locais em que ele controlava, segundo os investigadores.
O texto determinava a ausência por mais de 40 minutos do trabalho sem consentimento, estabelecia penalidades econômicas por não seguir as regras e horas extras sem remuneração, entre outros pontos.
Chagas explicou que receberam denúncias de mais de dez venezuelanos e que a investigação confirmou o que foi descrito nos depoimentos.
Segundo dados oficiais, nos últimos três anos, pelo menos 178 mil imigrantes venezuelanos buscaram refúgio no Brasil.