Determinado a não renunciar e a não ceder à decisão do Parlamento de atrasar mais uma vez a data da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson pode acabar nos tribunais. A rede de televisão BBC descobriu que um grupo de parlamentares multipartidários - incluindo membros do Partido Conservador que foram expulsos da legenda por votarem contra o governo - acionou uma equipe jurídica que se prepara para levar a questão à Justiça, obrigando o premiê a estender o prazo para além de 31 de outubro.
Na sexta-feira, 06, um projeto que obriga Johnson a pedir a extensão da data foi aprovado no Congresso e só perderá a validade se o Parlamento entrar em consonância com o bloco comum até 19 de outubro, uma chance que, por enquanto, parece ser muito remota de ocorrer. O governo disse que cumprirá a lei, mas ao mesmo tempo o primeiro-ministro argumentou que ela o obriga "em teoria" a escrever para Bruxelas pedindo um "adiamento sem sentido". Além do que, não há garantias de que a UE aceite a solicitação, que precisa ser aprovada pelos 27 membros. Vale lembrar que o presidente da França, Emmanuel Macron, tem se mostrado contrário a novos atrasos.
Na batalha de BoJo contra o Legislativo - que deve ser suspenso a partir da semana que vem -, ele disse que preferia "morrer em uma vala" a "implorar" à UE que atrase o prazo novamente.
O Daily Telegraph trouxe hoje que o premiê tem repetido que buscar outra data futura é "algo que nunca farei". Também publicou que ele tem reforçado que não executará as instruções do Parlamento para buscar uma extensão do Artigo 50, que regula o processo do Brexit, se não negociar um novo acordo com o bloco comum.
O grupo de congressistas, no entanto, formula um projeto de lei exigindo que o primeiro-ministro solicite a prorrogação para evitar um Brexit sem acordo em 31 de outubro. A expectativa é obter um consentimento real na segunda-feira. Na prática, a munição de Johnson está diminuindo.
Se optar por desobedecer à lei, o primeiro-ministro corre o risco de ser levado a tribunal pelos deputados interpartidários e poderá dividir ainda mais o seu próprio Partido Conservador. Renunciar ao cargo também não está nos planos do premiê, como disse algumas vezes: "não é uma hipótese". Mas há quem acredite que ele possa abandonar o cargo num movimento tático como o de jogo de xadrez, visando a voltar ao Número 10 de Downing Street, endereço oficial do governo, posteriormente. Esse raciocínio considera que Johnson poderia aconselhar a rainha a nomear o trabalhista Jeremy Corbyn, líder da oposição, que, pelo seu discurso até aqui, encaminharia o adiamento do Brexit.
Os deputados conservadores, em seguida, poderiam atuar, propondo uma moção de desconfiança contra o novo mandatário britânico. Corbyn também está longe de ser uma unanimidade e, se os legisladores vencerem, desencaderiam uma eleição geral, que foi a proposta mais recente de Johnson, negada pelo Parlamento na semana passada - o premiê precisava do apoio de dois terços dos 650 congressistas. Nessa estratégia, apontada por muitos como arriscada, um dos principais pontos de interrogação é o de se a rainha indicaria Corbyn como substituto a Johnson. Principalmente se ficar claro que há um outro nome com mais condições de comandar a maioria.
Outra hipótese ventilada nos meios de comunicação britânicos é o de que Johnson poderia propor um "projeto de lei de uma linha", determinando que haverá uma eleição geral, apesar da recusa do Parlamento.
Desde que sofreu derrotas consecutivas no Parlamento, Downing Street tem adotado a retórica de que os britânicos deixaram claro que querem o Brexit. Na prática, está colocando a população contra as decisões do Congresso..