O Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) aumentou as apostas nesta terça-feira (27) para a formação de um novo governo, ao exigir que o Partido Democrata (PD, centro esquerda) se pronuncie a favor da permanência de Giuseppe Conte como chefe de Governo.
Após quatro horas de discussões tensas, os dois partidos concluíram uma reunião na segunda-feira à noite para tentar formar um governo de emergência que substituiria a coalizão entre o M5S e a Liga (de extrema direita) de Matteo Salvini - uma equação que inclui um programa comum e uma delicada divisão de ministérios.
Um comunicado divulgado pelo M5S provocou o cancelamento de uma nova reunião programada para esta terça.
"Depois de quatro horas de reunião ontem (segunda-feira), não chegamos a nada. Não podemos trabalhar assim. Voltaremos a encontrar o PD, quando os órgãos do partido derem o 'ok' a Conte para seguir à frente do Executivo", afirmou o M5S em um comunicado.
"Isto não funciona. Em uma fase tão delicada para o país, não há tempo a perder. Nós trabalhamos intensamente para dar uma resposta imediata aos cidadãos", completou o M5S em seu comunicado, no qual indica que não participará mais em reuniões "até que (o PD) explique oficialmente sua postura sobre Giuseppe Conte".
Graças à força de sua bancada parlamentar (foi o partido mais votado nas legislativas de 2018, com o recorde de 32% dos sufrágios), o M5S quer um destaque na divisão dos ministérios com o Partido Democrático, mas sabe que o cenário não é tão simples.
O líder do PD no Senado, Andrea Marcucci, não gostou do cancelamento da reunião entre Conte, o líder do PD, Nicola Zingaretti, e o líder do M5S, Luigi Di Maio. Ele acusou este último de colocar a potencial aliança em risco.
Marcucci disse que as "ambições pessoais" de Di Maio estão colocando em perigo um acordo "para dar um novo governo ao país".
"Há três dias o PD fala de propostas, enquanto o M5S responde apenas com ultimatos", criticou Paola De Micheli, outra líder do PD, cogitada para o posto de vice-presidente.
De acordo com parte da imprensa italiana, Luigi Di Maio aspira ao posto de ministro do Interior, no qual substituiria Matteo Salvini. Isto representaria uma vingança sobre o líder da extrema direita, que implodiu a coalizão de governo anterior em 8 de agosto, depois de apenas 14 meses.
- A hora do presidente Mattarella -
De acordo com pessoas próximas, o líder do PD Nicola Zingaretti não se opõe à permanência do primeiro-ministro Conte à frente do novo Executivo. Sua condição seria que, em tal cenário, ao menos uma das vice-presidências fique com o PD.
O Partido Democrático também desejaria assumir as pastas da Economia e das Relações Exteriores, segundo a imprensa.
O tempo é cada vez mais curto. O presidente Sergio Mattarella iniciará consultas e espera um projeto de maioria sólida no mais tardar na quarta-feira à tarde.
Sem um acordo para uma nova coalizão, Mattarella convocaria novas eleições legislativas para 10 de novembro, em um momento ruim para a terceira maior economia da zona do euro, fortemente endividada e estagnada.
Depois de parecer abatido na véspera, quando o acordo PD-M5S parecia quase certo, Matteo Salvini ironizou as negociações de último minuto - "não sobre projetos, e sim sobre cadeiras" -, antes de voltar a pedir novas eleições.