O transformismo é um fenômeno conhecido na política italiana. O partido que exerce o poder coopta os chefes da oposição e, assim, além de manter seu status ainda decapita a organização adversária. Professor da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Roma Tor Vergata e membro da Fundação Instituto Gramsci, o historiador Gianluca Fiocco acredita que o fim do governo da Liga (direita) e do Movimento 5 Estrelas (M5S, centro) era esperado, pois tinha duas almas. E, assim, em uma semana, sem que haja novas eleições, a Itália pode passar de um governo de centro-direita para um de centro-esquerda. Não que isso vá mudar muita coisa. Continuariam existindo duas almas, só que a do M5S e a do Partido Democrático (PD, centro-esquerda). A seguir, a entrevista:
Por que mais essa crise? O sistema político italiano é instável?
Tínhamos um governo com base em duas forças com diferenças importantes: o M5S e a Liga. Elas se uniram como forças antissistema, alternativas aos partidos tradicionais.
O ex-ministro Carlo Calenda chamou a atenção para o transformismo em uma aliança entre o PD e M5S. O ex-primeiro-ministro Matteo Renzi (PD) alertou para o risco de grilinização (referência a Beppe Grillo, o humorista que fundou M5S) do PD. Com tantos temores, será possível um governo de centro-esquerda?
Certamente a coisa não é simples, até porque houve uma polêmica longa e contínua entre o PD e M5S. O M5S apresentou Renzi como um governo que arruinou a Itália e o PD dizia que o M5S era formado por novos bárbaros, incapazes de governar. Podemos ser um governo com partidos que assumam responsabilidades, para aprovar a lei orçamentária e, depois, organizar as eleições.
O que significaria um governo guiado por Salvini e pela Liga?
Um governo da Liga só seria possível após eleições. As sondagens dizem que ela teria um ótimo resultado e seria o primeiro partido. Mas não sabemos se teria a maioria sozinha.
A Itália já teve políticos como Sandro Pertini, Enrico Berliguer e Francesco Cossiga. Hoje tem Salvini, Renzi, etc. A política empobreceu na Itália?
Há um empobrecimento geral da política em todo mundo e não só na Itália. A democracia não pode ser apenas votar de quatro em quatro anos. A democracia vive também por meio da participação dos cidadãos, pois diante de uma cidadania responsável também a política se torna responsável. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..