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Estado de Minas

Itália fica sem governo após renúncia do primeiro-ministro


postado em 20/08/2019 17:20

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, renunciou nesta terça-feira (20) ao seu cargo diante do presidente da República, Sergio Mattarella, após anunciar a saída nas duas câmaras legislativas, acusando o líder da Liga, Matteo Salvini, de ser "irresponsável" ao romper a coalizão governamental.

O presidente deve agora explorar as possíveis saídas para a crise ao longo de dois dias de consultas com as forças políticas que começarão na quarta-feira.

Muitas hipóteses são consideradas, incluindo a possibilidade de um novo governo liderado por Conte que evite o aumento esperado do imposto sobre produtos (IVA) e prepare o orçamento para 2020.

"Assumo a responsabilidade diante de meu país, dado que falta a Salvini essa coragem, e ele demonstrou falta de lealdade", havia anunciado Conte aos deputados, poucas horas depois de ter comunicado sua renúncia diante do Senado.

"Este governo acabou", tinha declarado Conte no Senado, em tom enérgico, claro e direto, interrompido por aplausos e por gritos de protesto.

No pronunciamento, Conte criticou seu ministro do Interior. Segundo ele, Salvini "perseguiu apenas seus próprios interesses e os interesses de seu partido", ao tentar tirar proveito das pesquisas que lhes davam uma grande maioria no parlamento, na sequência dos resultados recordes nas eleições europeias (34%).

"Fazer os cidadãos votar é a essência da democracia, mas pedir a eles que votem todos os anos é irresponsável", disse Conte, que também chamou o político de extrema direita de "oportunista"e que usa de forma inadequada os símbolos religiosos em manifestações políticas.

"O país precisa urgentemente de medidas para promover o crescimento econômico e o investimento", completou.

"Estou interrompendo aqui essa experiência de governo. Pretendo concluir essa passagem institucional de maneira coerente. Irei ver o presidente da República para apresentar minha renúncia", afirmou Conte, ressaltando que antes pretende ouvir o debate programado para durar 3h45.

Em seu discurso contra Salvini, Conte acusou o vice-primeiro-ministro de causar "sérios riscos ao nosso país" e evocou o perigo de uma espiral econômica negativa para a terceira economia da zona do euro.

Ele também acusou o líder da Liga (extrema direita) de "falta de respeito pelas regras e instituições", repreendendo-o por exigir eleições o mais rápido possível para obter "plenos poderes".

"Caro ministro do Interior, ouvi você pedir 'plenos poderes' e apelar para que seus apoiadores saiam às ruas para apoiá-lo, essa atitude me preocupa", acrescentou Conte.

Também acusou o agora ex-aliado de sempre ter remado contra do governo pactuado entre a Liga e o antissistema Movimento 5 Estrelas.

"Em muitas ocasiões, invadiu o campo de outros ministros, criticou-os e rompeu a união da equipe de governo", resumiu o primeiro-ministro.

- Salvini não se arrepende -

Salvini respondeu com um discurso em tom de propaganda, falando na bancada do partido. Foi várias vezes interrompido.

"Não me arrependo de nada", declarou, após gritar que representa "um povo soberano", que "não teme nada" e é "livre". Provocou a irritação de boa parte do senadores.

"Há semanas, creio que meses, já pensavam em mudar a aliança", rebateu Salvini, denunciando a possibilidade de que nasça um novo governo com outra coalizão, desta vez entre o M5E e o Partido Democrático.

A crise desencadeada não apenas gerou preocupação pela estabilidade econômica, como também acabou aproximando duas legendas até então rivais. Esta aliança pode conter o impressionante avanço de Salvini e de sua política de extrema direita.

"Temem perder as cadeiras com eleições antecipadas", reagiu com seu habitual tom arrogante, no qual insistiu em oferecer um "governo forte" a seus aliados e pediu, como de costume, a proteção da Virgem Maria e de São João Paulo II, com um terço nas mãos.

A renúncia de Conte, um advogado sem experiência política, abre uma fase delicada, marcada pelas negociações.

"Conte, a Itália te ama", dizia um cartaz na frente do Parlamento, pouco antes de sua chegada nesta terça.

Em uma carta aberta, o ex-advogado próximo à esquerda esclareceu sua posição, contrariando a política anti-imigração de Salvini e o fechamento de portos para navios humanitários.

"Conte é uma pérola rara que a Itália não pode perder", escreveu no Facebook o líder do M5E, Luigi Di Maio.

"Em dez dias ele deixou de ser o Sr. Ninguém para ser o Senhor Conte", disse à AFP o analista italiano Aldo Garzia.

Vários dirigentes históricos de centro-esquerda de diversas correntes consideram que é preciso aproveitar a ocasião para formar um governo sólido, de corte progressista, com apoio da União Europa, que ofereça uma resposta ao fenômeno da migração, ao desemprego dos jovens e à dívida pública.

"Um acordo entre o M5E e o PD pode ser uma solução ainda para gente como eu que no passado teve muitos problemas com eles", admitiu à AFP-TV o ex-primeiro-ministro de centro-esquerda Matteo Renzi.

"O problema são as bases dos dois partidos, em alguns casos hostis", escreveu Luca De Carolis, do Fatto Quotidiano, que acompanha o M5E desde sua fundação.


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