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Estado de Minas

Aulas de costumes sexuais para refugiados que chegam a Berlim


postado em 31/07/2019 18:07

Um homem e uma mulher estão em uma discoteca, trocam olhares, bebem, riem, dançam e se beijam. O homem leva a jovem para sua casa e tranca a porta. Ela quer ir embora e ele a estupra.

O vídeo termina e sete homens de trinta e poucos anos que chegaram a Berlim a partir da Síria, Iraque ou Afeganistão devem comentar a situação exposta. "Ela bebeu demais, eles dormem juntos", diz um deles, convencido de que o homem se aproveita do estado de embriaguez da mulher para abusar dela. "Ele sabia muito bem o que queria", afirma outro.

"Em Berlim acontece com frequência que os jovens bebem muito, se drogam...", e nesse caso pode ocorrer este tipo de agressões, adverte a professora, Carola Pietrusky-Niane.

Em Marzahn, um dos bairros mais desfavorecidos da capital alemã, onde foram parar boa parte dos milhares de refugiados que chegaram a Berlim desde 2015, os sete homens assistem a quatro horas de um curso chamado "Juntos pelo respeito da segurança".

Trata-se de uma formação sobre sexualidade e consentimento. "São temas difíceis, falem com liberdade", encoraja a professora.

Os sete homens, em sua maioria solteiros e sem filhos, fazem esta formação de forma voluntária. O curso é organizado pela associação norueguesa Hero, que administra vários lares de acolhida de migrantes na Alemanha.

Como saber se uma mulher está consentindo? Que conselhos dar a refugiados que vêm de países nos que meninos e meninas costumam ir a escolas diferentes, onde as demonstrações de afeto em público são proibidas e onde o estupro conjugal não é considerado crime?

- Aumento de delitos sexuais -

São perguntas fundamentais em um país que recebeu centenas de milhares de refugiados em quatro anos e que continua atormentado pelas agressões sexuais da noite de Ano Novo de 2015 em Colonia, cometidas principalmente por homens oriundos de países do Magrebe.

Na Noruega, os migrantes foram obrigados entre 2013 e 2015 a seguir este tipo de formações, depois de vários casos de estupro envolvendo refugiados.

Na Alemanha, o ano de 2018 terminou com um aumento de 15% dos crimes e delitos sexuais cometidos por estrangeiros, com 6.046 infrações, segundo dados oficiais. O incremento se deve em parte a um endurecimento da legislação desde 2016.

No entanto, é uma amostra do desafio representado pela acolhida de migrantes, que em grande parte são homens solteiros. Além disso, a extrema direita se aproveita de casos como o estupro e assassinato de uma jovem por um afegão, em 2016 em Friburgo.

Entre os vídeos que são exibidos na formação há um que explica a diferença entre relações sexuais consentidas e estupro através de uma comparação com a oferta de uma xícara de chá.

Em outro exercício, os participantes se colocam em duplas frente a frente para analisar até que distância podem se aproximar e onde se situa a "fronteira pessoal" da intimidade.

- "Duas leis" -

"Não se deve tocar seu interlocutor. A mesma coisa com as crianças, nem sempre gostam que os carreguemos nos braços", indica a professora.

E qual é a chave do consentimento dentro do casamento? "Há alguns anos, o estupro conjugal ainda não era considerado um crime na Alemanha", aponta Carola Pietrusky-Niane.

"Em nosso país há duas leis, a do Estado e a da família, o clã", explica um participante.

Muitos deles não dão necessariamente por estabelecido que é preciso denunciar alguém próximo por estupro ou maus-tratos, e muito menos se se trata de seu pai. "Para nós a honra é um valor importante", resume um participante.

Heinz-Jürgen Voss, professor de sexologia na universidade de Merseburgo, considera que estas formações são "úteis", pois "existem diferenças de cultura e costumes". Em sua opinião, deveria-se expandi-las por toda a Alemanha. Um desafio, já que no país a educação e a formação são competência das regiões.

Para a ONG Pro-Asyl, "os valores e as normas são melhor aprendidas na vida diária que em aula. Os melhores meios de integração e prevenção são os contatos, o apoio escolar e o acesso ao mercado de trabalho".


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