Jornal Estado de Minas

Boris Johnson, próximo primeiro-ministro britânico, já terá problemas com saída do Brexit

O ex-prefeito de Londres e um dos artífices do Brexit Boris Johnson será o próximo primeiro-ministro britânico depois de derrotar o ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, segundo resultados anunciados pelo Partido Conservador.

O ex-chefe da diplomacia britânica obteve 92.153 votos dos 159.000 votos dos membros do partido, contra 46.656 votos de Hunt.

Desta forma, torna-se o líder dos conservadores e receberá as chaves de Downing Street na tarde de quarta-feira após uma visita à rainha Elizabeth II.

Boris Johnson prometeu nesta terça-feira "concluir o Brexit" até o prazo de 31 de outubro, depois de derrotar o ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, na disputa para ser o primeiro-ministro.  "Concluiremos o Brexit em 31 de outubro", declarou Johnson momentos depois de vencer as eleições primárias do Partido Conservador, ganhando o direito de substituir a atual premiê Theresa May, que teve que pedir a Bruxelas dois adiamentos da data de partida do bloco.

Crise do Brexit


A escolha de Johnson, que era para dar estabilidade política ao Reino Unido, tende a agravar a crise causada pela decisão do país de sair da União Europeia.

Johnson já lida com dificuldades internas e desacordos sobre sua estratégia sobre o Brexit. Personagem excêntrico, o ex-chanceler provoca animosidade entre os opositores do Brexit, muitos dos quais consideram que seu apoio à saída da UE, em 2016, serviu apenas como instrumento de suas ambições pessoais.

O Brexit estava programado inicialmente para 29 de março, mas foi adiado para 31 de outubro. O primeiro grande problema do novo premiê é ser capaz de manter a maioria no Parlamento de 650 membros. May governou graças ao apoio dos dez deputados do Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês), que defendem a união da Irlanda do Norte com o Reino Unido.

A saída da UE criou um problema aparentemente sem solução. Ao deixar o mercado comum europeu, Londres precisa restabelecer a fronteira física entre a Irlanda (parte da UE) e a Irlanda do Norte. Na prática, significa instalar postos de aduana para fiscalizar a passagem de mercadorias - o que prejudica a livre circulação e afeta a economia em ambos os lados.

Restabelecer postos de controle também pode ressuscitar um conflito histórico. O Tratado da Sexta-Feira Santa, que pacificou a região, em 1998, determina expressamente que não pode haver fronteira física na ilha. Por isso, May inventou um mecanismo chamado "backstop", pelo qual a Irlanda do Norte permanece no mercado comum até que se encontre uma solução para o controle aduaneiro.

O problema é que o DUP não aceita que a Irlanda do Norte viva sob um regime comercial diferente do Reino Unido - o partido considera o "backstop" uma unificação de fato da Irlanda.

Johnson já descartou o mecanismo. A UE respondeu, afirmando que não renegociará o tratado de saída. Assim, o Reino Unido se aproxima perigosamente de um Brexit sem acordo, o que afetaria ainda mais a já combalida economia britânica.

No fim de semana, Johnson disse que a solução para o problema será uma tecnologia que ainda não existe. "Se eles (americanos) conseguiram retornar da Lua à atmosfera da Terra, em 1969, com um código informático artesanal, poderemos resolver o problema de um comércio sem atrito na fronteira da Irlanda do Norte", escreveu ele em sua coluna no jornal Telegraph.

A solução não convenceu muitos membros do partido, que ensaiam uma debandada. Na segunda-feira, 22, o secretário para a Europa, Alan Duncan, renunciou diante da iminente vitória do ex-chanceler. "Johnson é a última pessoa que poderia obter progressos na negociação com a UE", disse. Philip Hammond, secretário do Tesouro, e David Gauke, secretário de Justiça, também anunciaram que farão o mesmo nesta terça, com a confirmação de Johnson como premiê.

 

(Com agências internacionais)

.