Autoridades da Argentina determinaram o congelamento de bens no país de membros do Hezbollah e da própria organização nesta quinta-feira, 18, e designaram o grupo islâmico xiita libanês como uma organização terrorista.
O anúncio veio no 25º aniversário do ataque a bomba contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em Buenos Aires, que matou 85 pessoas e deixou 300 feridos. A Argentina culpa o Irã e o Hezbollah pelo atentado - ambos negam qualquer responsabilidade. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, está no país para lembrar a ocasião.
A Argentina também culpa o Hezbollah por um ataque contra a embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992 que deixou 29 mortos e cerca de 200 feridos.
"Atualmente, o Hezbollah continua representando uma ameaça ativa e recorrente à segurança nacional e à integridade financeira e ordem econômica da República Argentina", informou a Unidade de Informações Financeiras do país. Ainda não é evidente o tamanho do impacto no país, ou quantos ativos o Hezbollah pode ter na Argentina.
O grupo já foi incluso em listas antiterror dos EUA, da União Europeia e de diversas nações.
A medida foi tomada um dia depois de um decreto do presidente Maurício Macri estabelecer uma lista de organizações e pessoas terroristas. Os incluídos na relação terão os ativos congelados na Argentina, além de ter a entrada no país proibida, caso sejam estrangeiros.
O congelamento de bens coloca o Hezbollah automaticamente no registro argentino, designando-o como uma organização terrorista, confirmou uma fonte do governo com conhecimento direto da ação.
Autoridades dos Estados Unidos e da Argentina dizem que o Hezbollah opera na chamada Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, onde uma economia ilícita financia suas operações em outras partes.
O atentado
Na manhã desta quinta, sirenes ecoaram pelas ruas de Buenos Aires em homenagem aos 85 mortos do pior ataque terrorista no país.
O país responsabiliza autoridades iranianas por planejar o ataque, e o Hezbollah por executá-lo. Mas, ninguém foi condenado após anos de investigações tumultuadas.
Uma caminhoneta carregada de explosivos atingiu o edifício onde funcionavam a AMIA e a Delegação das Associações Israelitas Argentinas (Daia), em 18 de julho de 1994.
Um memorando de entendimento com o Irã assinado em 2012 pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) buscou, segundo seus autores, superar esse entrave, mas nunca foi aplicado e agora é investigado judicialmente como um caso de encobrimento e traição.
Outro julgamento contra a alegada "conexão local" que forneceu a logística para o ataque foi cancelado, quando foi verificado que o juiz responsável pagou a um dos envolvidos para acusar falsamente um grupo de policiais e liberar o primeiro acusado.
Com isso, foi deixada de lado a investigação da chamada "pista síria", que ligava o ataque a famílias próximas ao ex-presidente Carlos Menem (1989-99).
Por essa operação, o ex-juiz Juan José Galeano foi condenado a seis anos de prisão em 28 de fevereiro por desvio da investigação. Menem foi absolvido, mas seu ex-chefe de inteligência Hugo Anzorreguy foi sentenciado a quatro anos de detenção.
As organizações de parentes das vítimas eram demandantes e denunciavam o acobertamento, em confronto com as autoridades da comunidade judaica, alinhadas com o governo de direita de Israel.
Antes de assumir a presidência em 1989, Menem havia oferecido a países árabes que colaboraram no financiamento de sua campanha a venda de tecnologia militar e insumos nucleares ao Irã, o que não cumpriu após se alinhar aos Estados Unidos na política externa. Entre outras hipóteses, suspeita-se que o ataque poderia ser uma vingança por esses compromissos não cumpridos.
O Irã se recusou a entregar os investigados, além de negar envolvimento no caso.
"Como é possível que 25 anos depois, ainda não há uma única pessoa responsável presa por esse crime contra a humanidade?", questionou Ariel Eichbaum, presidente da Amia. "Nós continuamos a ter perguntas para as quais ainda não há respostas. Vinte e cinco anos passaram e a ferida permanece aberta, uma ferida que não pode ser fechada sem justiça". (Com agências internacionais).