O Irã informou nesta quinta-feira, 18, ter retido um navio-tanque estrangeiro e sua tripulação sob suspeita da prática de contrabando de combustível no Golfo Pérsico. A região se encontra sob alta tensão há dois meses, após uma sequência de eventos envolvendo petroleiros.
"Uma embarcação estrangeira contrabandeando 1 milhão de litros de combustível foi apreendida", afirmou a emissora estatal iraniana. Segundo a Guarda Revolucionária, o Exército ideológico da República Islâmica, o navio-tanque foi retido no domingo, 14, ao sul da ilha de Larak, também conhecida como Lark, no Estreito de Ormuz.
O anúncio da prisão do navio acontece dois dias depois das declarações do líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, sobre o assunto. Segundo ele, o Irã responderia "na hora e no lugar oportunos" à intercepção, em 4 de julho, de um petroleiro iraniano por parte das autoridades britânicas, na costa de Gibraltar.
A Guarda Revolucionária ainda não divulgou o nome da embarcação retida na costa de Larak, nem sua bandeira.
"Esse navio com capacidade de dois milhões de barris e com 12 membros de tripulação a bordo se dirigia para entregar combustível de contrabando de navios iranianos", afirmou o Sepahnews, o site oficial da corporação. Conforme a mesma fonte, o caso do navio está na Justiça do país.
Na terça-feira, o Ministério iraniano das Relações Exteriores, anunciou que a República Islâmica havia oferecido assistência a "um petroleiro estrangeiro que teve um problema técnico" no Golfo.
Troca de acusações
Mais cedo naquele mesmo dia, a organização TankerTrackers, especializada no acompanhamento das cargas de petróleo, indicou que o navio-tanque de bandeira panamenha "Riah" havia entrado nas águas iranianas em 14 de julho.
O "Riah" costuma passar pelo Estreito de Ormuz para abastecer outros navios. Segundo a TankerTrackers, o sinal do sistema automático de identificação do petroleiro foi interrompido naquele momento. A última posição conhecida do "Riah" foi na costa da ilha de Qeshm, situada a menos de seis milhas náuticas a oeste de Larak.
A região do Golfo e do Estreito de Ormuz, por onde transita um terço do petróleo transportado por via marítima no planeta, encontra-se no centro de intensas disputas geopolíticas há mais de dois meses.
Os EUA reforçaram sua presença militar na região com base nas supostas "ameaças iranianas contra interesses americanos", as quais nunca foram claramente explicitadas.
Alimentada por suas divergências sobre a questão nuclear iraniana, a escalada entre os dois países atingiu seu ápice em 20 de junho, quando o Irã abateu um drone de vigilância americano.
O presidente americano, Donald Trump, disse ter anulado, no último minuto, ataques de represália contra alvos no Irã nas horas que se seguiram a este incidente. Segundo Teerã, o equipamento sobrevoava o espaço aéreo iraniano, o que Washington nega.
Nesta quinta, durante uma conversa por telefone, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu colega francês, Emmanuel Macron, concordaram sobre a necessidade de "consolidar os esforços" para salvar o acordo nuclear. Segundo o Kremlin, trata-se de um "fator muito importante para garantir a segurança no Oriente Médio".
Escalada
Sem dar detalhes, a Guarda Revolucionária negou as alegações de "veículos da imprensa ocidental", segundo os quais o Irã teria retido "outro navio" estrangeiro há alguns dias.
Nesta quinta-feira, o chefe do Comando Central americano, Kenneth McKenzie, falou em agir "energicamente" para garantir a segurança do transporte marítimo no Golfo, durante uma visita a uma base aérea perto de Riad, capital da Arábia Saudita. O país é um rival regional do Irã.
Na terça-feira, o Ministério britânico da Defesa disse estar pronto para enviar um terceiro navio de guerra para o Golfo. Mas disse se tratar de um "deslocamento de rotina", sem relação com as tensões na região.
Na semana anterior, Londres disse que embarcações militares iranianas haviam tentado "impedir a passagem" pelo Ormuz de um petroleiro britânico e que um navio da Marinha Real inglesa, o "HMS Montrose", que foi em seu socorro, teve de "lançar advertências verbais" aos iranianos. A Guarda Revolucionária negou qualquer "confrontação" recente com navios estrangeiros.
Segundo autoridades britânicas de Gibraltar, o navio iraniano retido em 4 de julho é suspeito de ter sido enviado rumo à Síria. Essa entrega violaria sanções da União Europeia a Damasco.