Jornal Estado de Minas

Mísseis encontrados em base pró-Haftar na Líbia pertencem à França

A França admitiu nesta quarta-feira (10) que os mísseis de fabricação americana encontrados em uma base do marechal líbio Khalifa Haftar perto de Trípoli, lhe pertencem, mas negou ter fornecido o armamento aos rebeldes, o que violaria o embargo da ONU em vigor na Líbia.

"Os mísseis Javelin encontrados em Gharian (oeste) pertencem ao exército francês, que os havia comprado dos Estados Unidos", declarou à AFP o ministério francês da Defesa, confirmando uma informação publicada no New York Times.

O jornal americano atribuiu na terça-feira à França a propriedade dos mísseis Javelin, descobertos em junho pelas forças leais ao Governo do Acordo Nacional (GNA) em uma base tomada do marechal Haftar, o homem forte do leste líbio, que lançou em abril uma ofensiva na capital.

"Estas armas eram destinadas à autoproteção de um destacamento francês mobilizado com fins de Inteligência antiterrorista", explicou o ministério francês, que ao mesmo tempo confirmou a presença de forças francesas em território líbio.

Estas munições, "danificadas e inutilizáveis", foram "armazenadas temporariamente em um depósito para sua destruição" e "não foram transferidas às forças locais", assegurou Paris, que negou tê-las fornecido às tropas do marechal Haftar, mas não explicou como foram parar em suas mãos.

Estas armas estavam nas mãos das "nossas tropas para sua própria segurança" e "nunca se pensou vender, dar, emprestar ou transferir estas munições a ninguém na Líbia", insistiu o ministério, que tampouco explicou porque estas munições, armazenadas em um país em guerra, não foram destruídas rapidamente.

As forças leais ao GNA, reconhecido pela ONU, se apoderaram durante a tomada de Gharian de uma série de armas de fabricação estrangeira, que apresentaram à imprensa. Entre as armas, havia três mísseis Javelin.

Washington abriu uma investigação para descobrir como estes mísseis de fabricação americana chegaram a um país teoricamente submetido a um embargo de armas rigoroso desde 2011.

- Chegada de armas -

Inicialmente suspeitou-se que estes mísseis Javelin pertencessem aos Emirados Árabes Unidos, mas este país negou categoricamente.

Segundo o New York Times, o Departamento de Estado americano concluiu recentemente, com base em seus "números de série", que os mísseis Javelin "foram vendidos originalmente à França".

Paris tinha comprado 260 mísseis Javelin dos Estados Unidos em 2010, segundo a Agência de Cooperação para a Segurança e a Defesa do Pentágono, citada pelo New York Times.

A França admitiu ter proporcionado informação de Inteligência ao marechal Haftar na luta antijihadista no leste e no sul do país, mas negou qualquer tipo de apoio militar em sua ofensiva contra Trípoli.

Apesar do embargo, nos últimos três meses houve informes sobre entregas de armas à Líbia, o que levanta suspeitas de uma guerra por procuração entre as potências regionais.

Fayez Al Sarraj conta com o apoio da Turquia e do Catar. Khalifa Haftar com o do Egito e dos Emirados Árabes Unidos e com o apoio, pelo menos político, dos Estados Unidos e da Rússia.

Especialistas da ONU estão investigando uma possível envolvimento militar de Emirados Árabes Unidos na Líbia, após os lançamentos de mísseis ar-terra da Blue Arrow em abril com aviões teleguiados Wing Loong fabricados na China, que são utilizados pelo exército emiradense.

Paralelamente, em maio, o GNA publicou fotos de dezenas de tanques turcos no cais do porto de Trípoli.

Em três meses de combate, mil pessoas, entre elas dezenas de migrantes, morreram na Líbia.

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