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Estado de Minas

China incentiva casamento interétnico em Xinjiang, uma forma de aculturação


postado em 08/07/2019 15:01

Na região de Xinjiang, a China mudou as regras dos exames de ingresso à universidade para dar aos filhos de um matrimônio interétnico vantagens sobre os outros estudantes.

Os especialistas consideram isso uma forma de apagar a cultura muçulmana.

Xinjiang foi cenário nos últimos dez anos de atentados violentos atribuídos aos uigures, etnia muçulmana de fala turca. A coexistência com os hanes (chineses de origem) às vezes é tensa.

Em nome da luta contra a insegurança, Pequim impôs medidas draconianas na região. O governo é acusado de ter internado 1 milhão de pessoas em acampamentos, às vezes com a simples desculpa de usarem barba longa ou véu integral.

A China desmente esse número e classifica de "centros de formação profissional" destinados a melhorar as possibilidades de encontrar emprego e limitar o risco de radicalização islamita.

Várias associações de defesa dos direitos humanos e pessoas que estiveram internadas neles asseguram que o objetivo é aculturar os uigures e as outras minorias étnicas.

A nova reforma educativa (que determina a entrada na universidade) é um passo na mesma direção em uma região onde a etnia uigur e a han representam cada uma quase a metade da população total (23 milhões de habitantes).

- Discriminação positiva -

Na China, os membros das minorias étnicas têm direito a pontos adicionais nos exames, uma medida afirmativa para compensar seu suposto nível inferior de mandarim. Desta vez o governo de Xinjiang inverteu a tendência.

Em uma circular publicada na semana passada anunciou que duplicaria os "créditos extra" (20 adiante) aos estudantes com um de seus pais han e o outro de uma minoria étnica local (uigur, tibetano, kazajo, mongol, tayico, ruso...).

Se seus dois pais são de uma minoria étnica, o número de pontos extra diminui exponencialmente e passa de 50 para 15.

Essa nova política "entra no marco de uma tentativa de chinização de qualquer forma de pensamento e comportamento não Han", avalia James Leibold, especialista de China na universidade australiana de La Trobe.

A China opina que "os matrimônios interétnicos constituem um meio importante de promover a integração nacional e a assimilação dos uigures e outras minorias étnicas dentro da nação chinesa", declarou à AFP.

Timothy Grose, professor de estudos chineses no Instituto de Tecnologia Rose-Hulman (Estados Unidos), vai além afirma que essas "novas medidas de incentivo (...) revelam o enfoque sistemático do Partido Comunista Chinês (PCC) para enfraquecer a identidade turco-muçulmana".

O governo de Xinjiang não respondeu a um pedido de entrevista da AFP.

- "Desconfiança mútua" -

Essa reforma não é a primeira tentativa das autoridades locais de promover os casamentos interétnicos.

Em 2014, o condado de Qiemo (sul de Xinjiang) anunciou que recompensará os casais formados por um han e um membro de uma minoria étnica com 10.000 iuanes (1.300 euros, 1.450 dólares) anuais nos cinco primeiros anos de casamento.

É difícil medir o efeito desse tipo de política.

As estatísticas sobre o tema são escassas, mas o censo de 2010 mostra que as pessoas têm tendência a se casar dentro de sua comunidade.

"As autoridades promovem os matrimônios interétnicos há décadas, sem muito sucesso", aponta Timothy Grose. "Me custa acreditar que essas mudanças nas notas dos exames vão incitar as minorias a buscar maciçamente um cônjuge han".

Nas redes sociais chinas, os internautas são globalmente céticos e alguns se queixam da discriminação negativa das crianças 100% hanes, que carecem de pontos extra.

"Há muita suspeita e desconfiança mútua (entre uigures e hanes), mas isso não freia de modo algum o Estado-partido em sua vontade de impor sua política", estima James Leibold.


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