Jen Schradie é socióloga e professora do Observatório Sociológico da Mudança, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), e lançou um livro que chegou nas últimas semanas nos EUA para explicar como os grupos conservadores se beneficiam mais das redes sociais para expandir o movimento.
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Reunião tenta solucionar quebra-cabeças das nomeações na UEIsolado no G-20, Trump redobra aposta em América primeiro por reeleição em 2020União Europeia e Vietnã assinam acordo de livre comércioTrump cruza a fronteira desmilitarizada e se encontra com líder da Coreia do NorteMestre por Harvard e PhD pela Universidade da Califórnia-Berkeley, Schradie analisou 30 grupos políticos na Carolina do Norte, nos EUA, para identificar quais grupos tendem a ser mais bem-sucedidos na internet. Com a pesquisa, ela questiona o quanto a internet abre portas para uma sociedade mais plural.
Segundo a pesquisadora, desigualdades, ideologias e instituições moldam a participação na nova sociedade da informação. Em 2010 e 2011, segundo ela, o foco no estudo de ativismo digital estava nos grupos de esquerda, impulsionados pela Primavera Árabe e pelo movimento Occupy Wall Street. Por isso, Schradie decidiu olhar para o outro lado.
A Carolina do Norte foi um dos dois Estados americanos que, em 2012, deixou de apoiar o democrata Barack Obama na eleição presidencial para apoiar o candidato republicano.
"Vejo a internet neutra, similar a outras formas de comunicação como telefone, rádio ou jornal, se você pensar na tecnologia de forma genérica.
Em seu estudo, a pesquisadora identificou que os grupos com maior infraestrutura tendem a ter um ativismo digital mais persistente.
"Não é apenas uma questão de conservadores terem mais recursos financeiros, mas também de haver uma conexão entre os conservadores e a forma de organização", afirmou Schradie. Ela menciona, por exemplo, que o sucesso do ativismo digital exige grupos com habilidade e conhecimento de uso da internet, para criar conteúdo, o que novamente remete a uma parcela da sociedade que tem mais acesso a recursos financeiros.
Pragmatismo
A pesquisa aponta que os grupos conservadores são mais próximos de organizações e instituições que podem oferecer apoio financeiro e, além disso, costumam ter uma hierarquia vertical.
"Outra parte desse quebra-cabeça é que os conservadores estavam sentindo como se a mídia não os estivesse representando e estiveram muito focados nessa ideia de liberdade de informação. Já a esquerda estava preocupada em ter diversas vozes envolvidas, discutir questões trabalhistas, ambientais e de gênero", afirmou.
Segundo Schradie, nem sempre o alcance na internet é tão amplo quando se tenta incluir várias mensagens diferentes - mais um fator que deixa os conservadores à frente. "Conservadores tendem a focar em questões de forma mais simples", disse.
Ao analisar os gastos dos grupos, a pesquisadora indica que os grupos conservadores tendem a investir em patrocínios de postagens com artigos, enquanto grupos de esquerda preferem focar em imagens de encontros com grupos que mostrem diversidade.
Para ela, a pesquisa com foco na Carolina do Norte partiu de uma hipótese que, atualmente, tem mostrado descobertas ainda mais importantes sobre o papel dos conservadores no ativismo das redes sociais. "O uso do WhatsApp nas eleições no Brasil, por exemplo, é particularmente interessante. É uma ferramenta que muitas pessoas com menos recursos também podem usar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..