Jornal Estado de Minas

Críticas de Trump aos sócios comerciais antecipam um G20 tenso

As críticas de Donald Trump aos sócios comerciais de Washington antecipam uma reunião tensa do G20 em Osaka (Japão), onde o presidente americano e a maioria de seu colegas, incluindo o chinês Xi Jinping, desembarcaram nesta quinta-feira para a reunião anual do grupo de países desenvolvidos e emergentes.

"A economia chinesa está em queda. Eles querem um acordo", declarou Trump em uma entrevista ao canal Fox Business Network antes do encontro, que acontecerá na sexta-feira e sábado.

A guerra comercial entre China e Estados Unidos será um dos temas centrais do encontro, durante o qual está prevista uma reunião bilateral entre Xi e Trump.

As duas maiores economias do planeta adotaram tarifas de importação mútuas nos últimos meses, que no caso de Washington chegam a 200 bilhões de dólares em produtos chineses. E a Casa Branca ameaça ampliar a medida.

"Há outros 325 bilhões aos quais ainda não impus tarifas, estão maduros para os impostos, para aplicar tarifas", afirmou Trump a Fox.

"Iniciar uma guerra comercial, impor tarifas, prejudicar os demais e a si mesmo não resolverá o problema", respondeu em Pequim o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

Os mercados aguardam pelo menos uma pausa na guerra comercial que, de acordo com analistas e instituições internacionais, coloca em perigo o crescimento da economia mundial.

"Ficaria muito surpreso se conseguissem solucionar todas as complicadas divergências nos próximos dias", afirmou David Dollar, analista sobre a China na Brookings Institution, com sede em Washington.

"Temos que ver se acontecerá algum tipo de mini-acordo e o mais importante seria se o governo dos Estados Unidos aceitasse congelar a aplicação de uma nova rodada de tarifas", completou Dollar.

Além da China, Trump não hesitou em chamar de "inaceitáveis" as tarifas da Índia aos produtos americanos.

"Estou querendo falar com o primeiro-ministro (Narendra) Modi sobre o fato de que a Índia, que durante anos aplicou tarifas muito elevadas contra os Estados Unidos, as aumentou ainda mais recentemente. É inaceitável e tem que retirá-las", escreveu Trump no Twitter.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que acredita em um G20 "difícil" durante uma reunião com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.

Os países do G20 representam quase 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

- Tensão com o Irã -

Na frente diplomática, a reunião também abordará a tensão com o Irã, depois que Trump anunciou ter cancelado no último minuto um ataque contra o país como represália à destruição de um drone americano.

Trump afirmou que não busca um conflito com o Irã, mas indicou que se este começar "não vai durar muito".

O presidente iraniano Hassan Rohani tentou reduzir a tensão ao declarar na quarta-feira que seu país "nunca buscará a guerra".

Donald Trump também tem uma reunião prevista com o presidente russo Vladimir Putin. A relação entre os dois está marcada pelas suspeitas de interferência de Moscou nas eleições americanas de 2016.

Os três países latino-americanos do G20 (Brasil, Argentina e México) chegam a Osaka com uma agenda especialmente econômica, mas também política.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que chegou nesta quinta-feira ao Japão, se reunirá com Donald Trump e com o francês Emmanuel Macron. A reunião bilateral inicialmente prevista o chinês Xi Jinping, que seria a primeira entre os dois, ainda não está confirmada, segundo uma versão atualizada da agenda oficial.

A China é um dos principais compradores de produtos brasileiros como soja e minério de ferro, mas o Brasil aspira exportar para o gigante asiático produtos de maior valor.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, terá como objetivo concluir o ambicioso e complexo tratado comercial entre a União Europeia e o Mercosul, negociado há vários anos.

Macri se reunirá com tal objetivo com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

O grupo de Lima organizará uma reunião em Osaka para debater a situação na Venezuela, país que enfrenta uma grave crise política e econômica, para pressionar o governo de Nicolás Maduro.

Osaka, segunda maior cidade do Japão, com três milhões de habitantes, está mobilizada para a maior reunião internacional já organizada no país, sob rígidas medidas de segurança, incluindo bloqueios no trânsito e o fechamento temporário de áreas do bairro da luz vermelha para não prejudicar a imagem da cidade.

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