Jornal Estado de Minas

Fotos de salvadorenhos afogados elevam tensão migratória México-EUA

O México se preparava para repatriar nesta quarta-feira (26) os corpos do migrante salvadorenho e sua filha de menos de dois anos, mortos ao tentar cruzar o Rio Bravo, cujas imagens dramáticas causaram comoção ao norte e ao sul da problemática fronteira com os Estados Unidos.

Óscar Alberto Martínez, de 25 anos, e sua filha, Valeria, de 1 ano e 11 meses, morreram afogados no domingo passado ao tentar cruzar ilegalmente o frio fronteiriço na altura da cidade de Matamoros, no estado mexicano de Tamaulipas (norte), vizinho a Brownsville, no Texas.

Seus corpos foram encontrados de bruços às margens do rio na segunda-feira. A imprensa internacional fala de um "Aylan mexicano", em alusão à imagem do corpo de um menino sírio encontrado morto por afogamento em uma praia turca após tentativa frustrada de chegar à Grécia em 2015.

A imagem gerou fortes reações nos dois lados da fronteira entre México e Estados Unidos, em um momento em que o governo mexicano mobiliza membros da sua recém-criada Guarda Nacional para conter os migrantes que tentam chegar aos Estados Unidos.

O líder da Câmara dos Deputados mexicana, Porfirio Muñoz Ledo, muito crítico do acordo migratório com Washington, condenou a política migratória mexicana.

"O que está acontecendo no país é inaceitável porque não se pode entregar a carne humana por pressão da grande potência. Isso não!", disse em entrevista à emissora Milenio Muñoz Ledo, um membro influente do partido do presidente Andrés Manuel López Obrador, Morena.

Em resposta a estas críticas, López Obrador disse que seu governo tem a consciência tranquila.

"Consideramos necessário manter boas relações com o governo dos Estados Unidos, não nos confrontarmos, que vamos a acreditar nossa proposta de que haja desenvolvimento na América Central", disse o presidente em sua habitual coletiva matutina.

Nos Estados Unidos também houve reações intensas da oposição contra a política migratória do governo de Donald Trump.

O presidente americano condenou o fato e atribuiu a responsabilidade à imigração ilegal e àqueles que incentivam dos Estados Unidos uma política de fronteiras abertas ou sem controle.

O México deslocou militares da Guarda Nacional após chegar a um acordo migratório em 7 de junho passado com Washington, depois que Trump ameaçou aplicar tarifas alfandegárias às exportações mexicanas se o país latino-americano não conter os migrantes que tentam chegar ao seu território.

- "Estado de choque" -

Em meio a este cruzamento de declarações, os corpos de Óscar Martínez, de 25 anos, e sua filha serão repatriados ainda nesta quarta para El Salvador.

"Hoje estivemos em comunicação com o cônsul geral de El Salvador no México, acabamos de acordar a entrega dos corpos dos mortos", disse à AFP Enrique Maciel, delegado regional do Instituto Tamaulipeco dos Migrantes.

Maciel acrescentou que a chancelaria salvadorenha contratou uma casa funerária no vizinho estado de Nuevo León (norte). "Os corpos serão entregues a eles. Viajarão de Tamaulipas a Nuevo León e hoje mesmo irão, por via aérea, a El Salvador", disse.

Martínez, que trabalhava como cozinheiro em El Salvador, pôs a filha dentro da camiseta para tentar cruzar o rio no domingo passado, mas os dois afundaram diante da mulher, Tania Vanessa Ávalos, e acabaram falecendo.

Ávalos viajará também nesta quarta a El Salvador, com um primo que os acompanhava.

"Ela está em estado de choque. É uma pessoa muito jovem, o sofrimento está à flor da pele, é compreensível", disse Maciel.

- Imensa dor -

A morte de Óscar e sua filha provocaram uma comoção em El Salvador, de onde partem diariamente 200 pessoas rumo aos Estados Unidos em situação ilegal.

"É uma dor imensa, ainda não conseguimos acreditar que meu menino e minha netinha estão mortos. Eles só queriam chegar aos Estados Unidos, tinham esse sonho americano, de conseguir uma vida melhor", disse por telefone a mãe de Óscar, Rosa Ramírez.

Segundo a família de Óscar, tinham saído de El Salvador em 3 de abril e já no México ficaram dois meses em um abrigo em Tapachula, no estado de Chiapas (sul), de onde começaram os trâmites para pedir asilo nos Estados Unidos.

Mas diante da demora em obter resposta ao seu pedido, desesperaram-se e decidiram continuar o caminho rumo aos Estados Unidos.

"Meu filho dizia que sonhava com que Valeria crescesse nos Estados Unidos, longe da pobreza, queria comprar uma casa para sua família e ter uma vida melhor", acrescentou Ramírez.

Em El Salvador, o presidente Nayib Bukele ordenou à chancelaria se manter a par da situação e que as despesas de repatriação dos corpos do pai e da filha sejam pagas pelo governo.

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