Em meio a grande ceticismo, a administração Trump começou a discutir nesta terça-feira, 25, seu plano econômico de US$ 50 bilhões que prevê até incentivo ao turismo para tentar alcançar a paz entre israelenses e palestinos. Mas ele não esclarece os detalhes políticos para torná-lo real.
O plano foi apresentado pelo genro e conselheiro do presidente Donald Trump, Jared Kushner, a um grupo reunido em Manama, capital do Bahrein, em uma conferência marcada pela ausência de líderes israelenses e palestinos.
Em linhas gerais, o plano prevê o investimento de doadores nacionais e investidores de cerca de US$ 50 bilhões. Mais da metade desse montante seria colocado nos territórios palestinos nos próximos dez anos. O restante seria dividido entre Líbano, Egito e Jordânia - país que mais tem absorvido palestinos e teme que eles se estabeleçam em seu território para sempre.
O dinheiro seria investido em áreas palestinas ligadas à infraestrutura, comércio e turismo, mas é vago sobre como solucionar os entraves políticos a eles. Há uma seção dedicada ao turismo no plano de Kushner. "Para o desenvolvimento total da indústria do turismo palestina, novos investimentos são necessários para a criação de acomodações e atrações próximas dos locais turísticos mais populares", afirma o texto.
Um dos empecilhos que não responde o plano trata-se do bloqueio israelense e egípcio à Faixa de Gaza há mais de uma década, controlando a entrada de vários produtos e, principalmente, proibindo o acesso a materiais de construção, que Israel teme que o Hamas, grupo que controla o território, utilize para fins militares.
O plano também não cita a ocupação israelense da Cisjordânia, o que impõe um enorme obstáculo a qualquer projeto de desenvolvimento econômico palestino.
Entre os 179 projetos de infraestrutura e negócio para os palestinos, o plano de Kushner prevê um corredor de transporte de US$ 5 bilhões para conectar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, distantes 115 km um do outro. A proposta não é exatamente uma novidade e já foi apresentada no passado, mas emperrou na falta de acordos políticos e de segurança para viabilizá-la.
De acordo com o analista de Oriente Médio do jornal Jerusalém Post, algumas partes do plano "mostram que Israel ou não foi consultado, ou não tinha nada a dizer ou os autores do texto não são familiarizados com o papel desempenhado pelo país nas fronteiras e nas telecomunicações palestinas".
O plano fala, por exemplo, em viabilizar serviços de dados de alta velocidade. O analista lembra que o veto de Israel à tecnologia wireless 3G para serviços móveis aos palestinos somente foi derrubado em 2018.
A Autoridade Palestina, que alega que não há saída sem uma solução política, boicotou o evento de dois dias.
"Não sei dizer quantas vezes eu li propostas de 'planos Marshall' para o Oriente Médio em um período de 20 anos. Mas a realidade é que, na sequência, é muito problemático usar incentivos econômicos - desenvolvimento, comércio, assistência e até a construção de instituições - sem primeiro alcançar as necessidades e exigências políticas das pessoas no conflito", afirmou Aaron David Miller, ex-negociador para o Oriente Médio de administrações republicanas e democráticas.
Centenas de palestinos protestaram na segunda-feira na Cisjordânia ocupada contra a conferência. Perto de Hebron, alguns deles sentaram-se em torno de um caixão com a inscrição "Não ao acordo do século", uma expressão pejorativa que faz referência às propostas de paz de Trump.
Os palestinos cortaram os laços com a Casa Branca após Trump reconhecer em 2017 Jerusalém como capital de Israel e transferir a embaixada americana de Tel-Aviv. Para eles, a proposta de paz da administração republicana é pró-Israel. A equipe de Oriente Médio de Trump assinalou recentemente que aceitará a anexação por Israel de partes da Cisjordânia, coração do Estado Palestino, aprofundando ainda mais as suspeitas palestinas. (Com agências internacionais).