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Estado de Minas

Descobertos na Ásia Central indícios do uso mais antigo da maconha


postado em 12/06/2019 22:27

Em um cemitério localizado na cordilheira do Pamir, na Ásia Central, predominam notas de uma harpa antiga, um forte aroma de zimbro e um odor ainda mais intenso de maconha.

Estamos em uma cerimônia em homenagem aos deuses, ou aos mortos, há 2.500 anos.

Os rituais, reconstituídos por arqueólogos a partir de escavações neste local situado na província chinesa de Xinjiang, representam o uso mais antigo da cannabis, conhecida por suas propriedades psicoativas.

A descoberta, publicada nesta quarta-feira (12) na revista Science Advances, acrescenta cannabis à maçã, às nozes e a muitos cultivos que evoluíram durante séculos às suas formas modernas ao longo das rotas da seda, disse Robert Spengler, o principal arqueobotânico que participou do estudo.

"As rotas comerciais dos primeiros Caminhos da Seda funcionavam mais como os raios de uma roda do que como um caminho longo e reto, o que situava a Ásia Central no coração do mundo antigo", disse o cientista, que trabalha no Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana da Alemanha.

Uma forma mais antiga de cannabis no leste da China foi domesticada pelos humanos por seu óleo e sua fibra há seis mil anos: o cânhamo. Mas este cânhamo não tinha as mesmas propriedades psicoativas.

O local em questão é o cemitério de Jirzankal, perto da fronteira atual entre a China e o Tadjiquistão.

Os arqueólogos descobriram, em oito túmulos, um total de dez grandes bacias de madeira que contêm pedras com vestígios de fogo.

O cemitério em si tem características notáveis. Localizado mais de 3.000 metros acima do nível do mar, sua superfície está coberta de seixos e pedras brancas e pretas, que formam grandes faixas intermitentes. Montes funerários salpicam a paisagem.

- Heródoto já falava em cannabis -

Os cientistas analisaram as bacias de madeira e as pedras queimadas usando uma técnica de cromatografia (espectrometria de massas), empregada frequentemente pela Polícia científica e cada vez mais pelos arqueólogos.

O princípio desta técnica é que os componentes químicos são separados para identificá-los em nível molecular.

"Para nosso deleite, encontramos os biomarcadores da cannabis e, em particular, os componentes químicos relacionados às suas propriedades psicoativas", disse Yimin Yang, coautor do estudo e professor da Universidade da Academia Chinesa de Ciências.

As moléculas detectadas foram principalmente de canabinol (CBN). O principal ingrediente psicoativo da cannabis, o tetraidrocanabinol (THC), se torna CBN em contato com o ar.

A descoberta das harpas angulares, instrumentos usados nos funerais, e do conteúdo das bacias de madeira de zimbro, que liberam um forte cheiro de resina, acabam completando o quadro ritual: pessoas reunidas em volta de uma espessa nuvem alucinógena para uma celebração.

- Quem eram os mortos? -

As tumbas continham ao mesmo tempo uma pessoa morta, aparentemente por causas naturais, e corpos com marcas de golpes, sinais que sugerem possíveis sacrifícios humanos.

Exames de DNA, que estão sendo realizados, podem ajudar a revelar se os mortos pertenciam à mesma família.

Duas teorias poderiam explicar o aparecimento gradual, ao longo dos séculos, de uma cannabis com concentração cada vez maior de THC.

Ou a cannabis foi selecionada metodicamente pelos produtores que queriam aumentar os níveis de THC ou evoluiu por "hibridação", através do transporte e dos intercâmbios humanos, favorecendo os cruzamentos entre diferentes variedades.

Estes trabalhos completam um pouco mais um antigo quebra-cabeça sobre o uso antigo dos narcóticos.

No século V antes de Cristo, o historiador grego Heródoto descreveu moradores das estepes do Cáspio que estavam reunidos em uma pequena tenda, onde queimavam plantas em um recipiente com pedras quentes.

Outros exemplos são a substância mítica "soma", mencionada em antigos textos hindus, bem como o "haoma" do zoroastrismo.

"Espero que tenhamos reacendido o interesse por estudar o uso antigo das plantas nesta parte do mundo", disse Robert Spengler.


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