Jornal Estado de Minas

Primeiro dia de 'desobediência civil' no Sudão tem quatro mortos

Quatro pessoas morreram neste domingo (9) no primeiro dia de um movimento nacional de "desobediência civil" convocado por líderes da oposição no Sudão, contra os generais no poder - disseram médicos próximos aos manifestantes.

Duas dessas quatro pessoas morreram baleadas, e as outras duas, após serem "espancadas e esfaqueadas", afirmou o Comitê de Médicos.

As vítimas chegaram a ser levadas para o hospital de Omdurman, mas não resistiram aos ferimentos, acrescentou o mesmo comitê em diferentes comunicados.

Essas pessoas foram vítimas "do Conselho Militar de transição" e de suas "milícias", acusou a mesma fonte.

O balanço total de vítimas desde o início da violenta repressão, em 3 de junho, quando foi dispersado um ato pacífico da oposição em Cartum, é de 118 mortos, de acordo com o comitê.

Com pneus, tijolos, ou troncos de árvore, os manifestantes começaram, desde a manhã, a construir novos bloqueios nas ruas de Bahri, bairro do norte da capital. Rapidamente, porém, policiais do Batalhão de Choque intervieram e tentaram dispersar a multidão com gás lacrimogêneo e tiros para o alto.

"Quase todas as vias de Bahri têm bloqueios. Os manifestantes impedem as pessoas de irem trabalhar", disse uma testemunha à AFP.

Ao convocar uma "verdadeira desobediência civil", os organizadores dos protestos garantiram, na sexta-feira, que não vão parar até a instauração de um governo civil, sua principal reivindicação desde a queda de Omar al-Bashir, em 11 de abril.

"A desobediência civil e a greve geral são nossos meios pacíficos para proteger nosso direito à vida frente à barbárie das milícias", declarou a Associação de Profissionais Sudaneses (SPA), que lidera os protestos, em um comunicado.

- Patrulhas das forças paramilitares -

Os manifestantes acusam os paramilitares das RSF (Forças de Apoio Rápido) - dirigida pelo temido general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemeidti" - de estarem por trás da violenta dispersão do acampamento instalado no centro de Cartum e ocupado por milhares de sudaneses desde 3 de abril.

Nos dias que se sucederam, patrulhas de homens armados continuaram percorrendo a cidade. Os moradores relatam um clima de "terror".

Neste domingo, vários veículos das RSF, equipados com metralhadoras, mantinham a patrulha na capital sudanesa. Alguns cercam a principal central elétrica para evitar o corte de energia.

Em alguns bairros, os transportes públicos não funcionam.

No aeroporto de Cartum, passageiros esperavam a partida de seu voo, ainda sem saber se os aviões iriam decolar.

Hoje, em Omdurman, cidade gêmea de Cartum, os moradores foram às ruas comprar itens de primeira necessidade, mas a maioria dos estabelecimentos comerciais estava fechada.

"Vimos soldados quando tentavam suspender os bloqueios nas ruas", disse uma testemunha à AFP, em Omdurman.

Em Al-Obeid (centro), as lojas também não abriram as portas, e muitas agências bancárias não abriram.

Na cidade de Madani (centro), filas de espera se formaram nas padarias, mas os mercados continuam fechados.

Surgido em 19 de dezembro após a decisão do governo de triplicar o preço do pão, o movimento ameaça há semanas convocar o ato de "desobediência civil".

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