Jornal Estado de Minas

Jornalista investigativo russo acusado de tráfico comparece à Justiça

Acusado por tentativa de tráfico de drogas "em grande quantidade", o jornalista investigativo Ivan Golunov foi levado à Justiça neste sábado (8), após ser hospitalizado.

Hoje, a Justiça decidirá se o repórter continua preso, ou se será posto em liberdade.

"Ivan Golunov foi acusado de tentativa de tráfico", escreveu seu advogado Pavel Chikov no aplicativo de mensagens Telegram.

Pouco depois a polícia informou, em um comunicado, que o jornalista, de 36 anos, foi internado após "se sentir mal".

"Tomou-se a decisão de enviar o detido para um estabelecimento médico para avaliação", disse a nota, sem mais detalhes sobre sua condição de saúde.

Também no Telegram, o advogado do repórter relatou que os médicos "suspeitavam" de que seu cliente teve as costelas quebradas, contusões e traumatismo craniano.

O chefe da equipe médica do hospital, doutor Alexandre Miasnikov, negou, porém, essas declarações. "Detectamos apenas arranhões nas costas e contusões em um dos olhos", relatou.

Golunov, repórter do veículo on-line independente Meduza, que tem sua sede na Letônia, foi detido na quinta-feira (6), em Moscou. Segundo a polícia, no momento de sua detenção, carregava em sua mochila cinco envelopes de mefedrona, uma droga sintética.

Ontem, Golunov informou ao representante do Conselho Presidencial dos Direitos da Rússia que foi agredido no momento de sua detenção. Segundo ele, os policiais lhe deram dois socos na cabeça e pressionaram seu peito com os pés.

De acordo com seus colegas, a acusação é uma armação para punir suas investigações sobre corrupção nas mais altas esferas políticas. Golunov publicou matérias investigativas sobre fraudes no setor de microcréditos, ou na gestão de coleta de lixo na capital russa.

Advogado da área de direitos humanos, Chikov exibiu um documento policial que mostra a acusação contra o jornalista por tentativa de vender uma "grande quantidade" de cocaína e de mefedrona. Se for considerado culpado, pode ser condenado a uma dura pena de prisão.

Na frente do tribunal, a diretora-geral do Meduza, Galina Timchenko, disse que o jornalista recebeu ameaças.

"Ivan recebeu ameaças. Há dois meses elas se tornaram quase diárias", denunciou Galina, acrescentando que não conseguiu convencê-lo a falar com a polícia.

"Diziam 'vamos te enterrar para sempre'", completou.

"Temos razões para acreditar que Golunov está sendo perseguido por suas atividades jornalísticas", declarou a direção do Meduza na sexta-feira (7).

"A reputação profissional de Ivan Golunov é irretocável. É um jornalista meticuloso, honesto e imparcial", acrescentou o Meduza.

Também ontem, a organização Anistia Internacional denunciou acusações "duvidosas e que seguem um esquema já conhecido, infelizmente".

A Rússia se encontra na 149ª posição na classificação de liberdade de imprensa da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) em 2019, atrás do México, do Zimbábue, ou da Argélia, por exemplo.

Vários jornalistas foram agredidos, ou assassinados, nos últimos anos.

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