Joe Biden, que lidera a disputa pela indicação democrata para a eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos, anunciou que não é mais contrário ao uso de verbas federais para financiar abortos.
Biden, ex-senador e que foi vice-presidente do país durante os dois mandatos de Barack Obama, apoiou durante décadas uma emenda polêmica sobre o tema, a emenda Hyde.
A emenda Hayde de 1976 limita estritamente aos casos de estupro, incesto ou risco de vida da mãe o uso de verbas federais para financiar abortos através do sistema de seguro de saúde público Medicaid, que atende os americanos mais vulneráveis.
A emenda foi aprovada em 1976 após a decisão da Corte Suprema conhecida como Roe v. Wade, que legalizou em 1973 o direito ao aborto nos Estados Unidos.
Biden, um católico de 76 anos que se opõe pessoalmente ao aborto, votu dezenas de vezes a favor da emenda Hyde.
O democrata foi muito criticado durante a semana por outros candidatos à indicação democrata quando sua equipe de campanha confirmou que ele ainda apoiava a polêmica emenda.
O debate sobre o aborto foi retomado depois que vários estados governados por republicanos aprovaram medidas restritivas nos últimos meses.
Na quinta-feira, Biden anunciou que mudou de opinião.
"Os direitos e a saúde das mulheres são atacados de uma maneira que constitui uma tentativa de reverter todo o progresso que conquistamos nos últimos 50 anos", escreveu o ex-vice-presidente no Twitter.
"Se, como eu acredito, a saúde é um direito, não posso mais apoiar uma emenda que faça com que este direito dependa do código postal de uma pessoa", completou.
Os críticos da emenda Hyde afirmam que o texto discrimina as mulheres mais pobres que dependem do Medicaid.
A questão do aborto e de uma possível revisão da decisão histórica da Suprema Corte provoca intensos debates na perspectiva da eleição presidencial de 2020, na qual o republicano Donald Trump enfrentará o vencedor das primárias democratas.
A mudança de posição de Biden aconteceu após uma série de críticas de rivais democratas.
Devemos derrubar a emenda Hyde", reagiu o senador independente Bernie Sanders, que as pesquisas apontam em segundo lugar na corrida pela indicação democrata.
"Não apoio a emenda Hyde e lutarei por sua derrubada", declarou à imprensa a senadora progressista Elizabeth Warren, terceira nas pesquisas.
"Nenhuma mulher deve ver o acesso ao aborto limitado por sua renda", tuitou a quarta colocada nas pesquisas, a senadora Kamala Harris.
Ativistas também criticaram Biden. "Não há nenhuma desculpa política ou ideológica para o apoio de Joe Biden à emenda Hyde, que reflete discriminações contra as mulheres pobres", publicou no Twitter a associação Naral, que defende o direito ao aborto.