Jornal Estado de Minas

Europa bate recorde na apreensão de cocaína em um mercado em vias de "uberização"

As autoridades europeias apreendem quantidades recorde de cocaína cada vez mais pura, alerta a agência de combate às drogas do continente, que também aponta o aumento do uso de drogas sintéticas e da venda através dos telefones celulares.

O aumento do tráfico nas redes sociais, mercados na 'dark web' e os 'call center' de cocaína estão criando uma possível 'uberização' do negócio de entorpecentes, afirmou a agência em um relatório de 100 páginas.

"Os desafios que enfrentamos na área das drogas continuam aumentando", afirmou Alexis Goosdeel, diretor do Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência (EMCDDA), com sede em Lisboa, Portugal.

Goosdeel completou que existem evidências de que drogas como a cocaína estão cada vez mais disponíveis, mas que as "drogas sintéticas e a produção dentro da UE adquirem cada vez mais importância".

Em 2017 foram registradas 104.000 operações de apreensão de cocaína, com o confisco de 140,4 toneladas desta droga.

Os números representam recordes históricos na União Europeia, destaca o estudo.

A oferta de cocaína, o primeiro estimulante ilícito da Europa com 3,9 milhões de consumidores ao ano, "nunca foi tão importante como agora". Em geral, a maconha representou 75% das drogas ilícitas apreendidas na Europa em 2017.

A cocaína, produzida a partir das folhas de coca principalmente na Bolívia e Colômbia, viaja cada vez mais para a Europa por via marítima, com escalas regulares no Caribe, norte e oeste de África, consideradas "importantes zonas de trânsito".

"Destaque para o crescimento do tráfico de grande volume em grandes portos, por meio de contêineres", afirmou o EMCDDA.

Bélgica (45 toneladas) e Espanha (41 toneladas) são os principais centros de entrada da droga por via marítima.

Após o desembarque, antes de chegar ao cliente final, a cocaína segue uma cadeia que provocou o surgimento de novos atores "nos níveis intermediários e no varejo", com novas estruturas "fragmentadas, menos definidas e mais horizontais".

O tráfico nas ruas está sendo substituído pelos sites de venda na 'dark web' ou por transações com criptomoedas.

Os "serviços telefônicos" (call centers) especializados em cocaína utilizam entregadores a domicílio, por meio de contatos em aplicativos como o Whatsapp.

O "espírito de empresa reflete uma possível uberização do comércio da cocaína", aponta o EMCDDA.

"Devemos considerar o papel da digitalização no mercado de drogas", afirma Dimitris Avramopoulos, comissário europeu de Migração, Assuntos Internos e Cidadania, na introdução do relatório.

Ele defende uma "coordenação a nível nacional, europeu e internacional".

Além da cocaína, Goosdeel faz um alerta sobre as drogas sintéticas.

"Em 2018 foram detectados 11 opioides sintéticos novos na Europa, habitualmente na forma de pó, comprimido e líquidos", afirma o estudo.

O continente parece ter um papel crescente na produção de drogas sintéticas, como demonstra o desmantelamento de 21 laboratórios de MDMA, todos na Holanda, contra apenas 11 em 2016.

O estudo também mostra que a Turquia virou uma zona significativa de trânsito para o tráfico de drogas entre Europa e Oriente Médio.

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