O México se mostrou "otimista" nesta terça-feita (4) em evitar que os Estados Unidos imponham tarifas sobre as suas exportações caso a imigração irregular persista, mas o presidente Donald Trump pareceu minar as esperanças de uma rápida solução.
"Vamos ver se podemos fazer alguma coisa, mas acho que é mais provável que as tarifas sigam adiante", disse Trump em Londres, durante visita de Estado ao Reino Unido, assegurando que não aceitará desculpas e que cumprirá sua ameaça.
Da Cidade do México, o presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), se disse "otimista" sobre alcançar um acordo e afirmou estar disposto a se reunir com Trump caso seja necessário para evitar que as tarifas entrem em vigor.
"Se for necessário, vamos fazer isso, mas primeiro vamos deixar que aconteça o encontro de amanhã", afirmou AMLO a jornalistas depois que seu chanceler, Marcelo Ebrard, previu em Washington grandes chances de um acordo com o governo Trump.
Ebrard deve se reunir na quarta-feira com seu colega americano, Mike Pompeo, para analisar o tema.
"Acredito que temos 80% (de chance) em favor de uma negociação, 20% talvez de que seja difícil chegar a um acordo neste momento", disse Ebrard, à frente da delegação enviada imediatamente por AMLO à capital americana após a surpreendente ameaça de Trump.
Trump surpreendeu na última quinta-feira, ao anunciar que os Estados Unidos aplicarão, a partir de 10 de junho, tarifas de 5% a todos os bens provenientes do México. O percentual aumentará progressivamente até chegar a 25% a partir de 1º de outubro, se seu vizinho do sul não contiver o crescente fluxo de imigrantes em situação ilegal que chegam à fronteira americana. A maioria é centro-americana, procedente de Guatemala, Honduras e El Salvador.
- Fed atento -
"Partindo da base de que o México já está fazendo um esforço muito grande, compartilhamos a preocupação e pensamos que tem solução o grande aumento do fluxo migratório que estamos vendo", afirmou Ebrard.
Pouco depois, em coletiva de imprensa em Londres, Trump insistiu em que o governo de AMLO "não deveria permitir que milhões de pessoas" tentassem cruzar a fronteira que separa o México dos Estados Unidos.
"O México tem que fazer mais para frear esse ataque, essa invasão a nosso país", disse.
O número de migrantes detidos na fronteira entre ambos os países superou os 100.000 mensais nos últimos meses, segundo dados do governo americano.
A guerra comercial empreendida por Trump, intensificada recentemente contra China e México, não passa despercebida para o Banco Central americano. O presidente da instituição disse nesta terça que acompanha de perto os efeitos dessa disputa sobre a economia nacional.
"Vigiamos de perto o impacto que os acontecimentos podem ter nas perspectivas de crescimento da economia dos Estados Unidos, e, como sempre, atuaremos para apoiar a expansão", disse Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), durante discurso em Chicago.
- Republicanos contra Trump? -
No Congresso americano, o próprio Partido Republicano de Trump, tradicionalmente oposto às medidas protecionistas, está incomodado com o anúncio do presidente. Tanto que alguns legisladores estariam avaliando organizar uma votação para bloqueá-la, segundo o jornal The Washington Post.
"Acho que é uma má ideia", disse o senador republicano Cory Gardner a jornalistas na noite de segunda-feira.
Ebrard não quis comentar a reportagem do Post, enquanto Trump afirmou que seria uma "burrice" os republicanos votarem contra ele, lembrando que conta com uma imensa popularidade nas bases do partido, de mais de 90%.
Estados Unidos e México têm até domingo à noite para chegarem a um acordo para conter uma possível escalada que gera preocupações nos circuitos econômicos e nos mercados de ambos os países.
O México diz estar confiante em encontrar "um ponto de aproximação" com os Estados Unidos, mas também está "preparado" para um cenário de não negociação, garantiu Ebrard, sugerindo que o governo de AMLO poderá considerar represálias.
Os funcionários do governo mexicano, contudo, alertam que o uso de tarifas como eventuais medidas de retaliação podem ser prejudiciais para as economias.
O presidente comunicou sua intenção de aplicar tarifas no mesmo dia em que os Congressos de ambos os países iniciaram o processo para ratificação do T-MEC, o novo acordo de livre comércio da América do Norte que substituirá o Nafta. Este tratado é vital para o México, que envia 80% de suas exportações para os Estados Unidos.