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Estado de Minas

Tecnologia substitui tanques, 30 anos após massacre da praça da Paz Celestial


postado em 03/06/2019 11:48

Trinta anos depois da repressão, os tanques da praça da Paz Celestial (Tiananmen) deram lugar a um arsenal mais discreto, mas igualmente efetivo para o regime chinês: milhares de câmeras atentas ao menor indício de protesto social.

Na imensa esplanada do coração de Pequim, as câmeras observam os turistas que admiram o gigantesco retrato de Mao Zedong, o fundador da república popular.

Essas câmeras penduradas nos postes de luz são o lado visível do arsenal tecnológico à disposição do Partido Comunista Chinês (PCC) para impedir um movimento pró-democracia como o de 1989, que foi severamente reprimido em 4 de junho de 1989.

De norte a sul do país, foram criados postos de polícia nos últimos dez anos para prevenir o crime e qualquer perturbação da ordem pública.

A obsessão do regime com inteligência artificial e reconhecimento facial sofisticou essa complexa rede de vigilância. Permite que a polícia bata na porta de qualquer suposto desordeiro, denunciam vários dissidentes à AFP.

Outros estimam que a onipresença do partido nas universidades e a redução dos poucos "espaços de liberdade", como livrarias independentes, dificultam qualquer tentativa de debater reformas políticas hipotéticas.

"Graças à melhoria das tecnologias de vigilância, seria muito mais difícil hoje realizar manifestações como as da Praça da Paz Celestial em 1989", observa Patrick Poon, da Anistia Internacional.

Nos últimos anos, tem havido pequenas "manifestações espontâneas" no país, lançadas por sindicalistas, estudantes, ou famílias afetadas por escândalos alimentares, ou vacinas defeituosas.

Estes protestos esporádicos também estão diminuindo, porque Pequim se esforça para "cortá-los pela raíz" e censura qualquer referência a eles nas redes sociais, explica Poon.

"Cada vez que saio da cidade, tenho que informar a polícia", afirma Yi Wenlong, um empresário da província de Shanxi (norte), cuja filha sofre epilepsia como consequência de uma vacina adulterada.

"Se sequer podemos falar dos problemas concretos como vacinas, como vamos agitar cartazes pedindo grandes mudanças?", questiona.

- 176 milhões de câmeras -

Desde a chegada do presidente Xi Jinping ao poder em 2012, Pequim reduziu o espaço das liberdades civis, atacando advogados, dissidentes e até estudantes "marxistas" defensores dos direitos dos trabalhadores.

Os censores do regime reforçaram o controle das redes sociais, monitoram as conversas entre milhões de indivíduos e bloqueiam qualquer conteúdo politicamente sensível, em particular a repressão de 1989.

Em vista da proximidade da data de 4 de junho, a enciclopédia virtual Wikipedia foi bloqueada no país em todos os idiomas.

Para o militante Hu Jia, "a liberdade de expressão é a pedra angular de todas as liberdades" e, "sem ela, outra Tiananmen é inimaginável".

O novo arsenal policial inclui softwares de reconhecimento de voz para identificar pessoas por telefone e um programa para coletar amostras de DNA, segundo Xiao Qiang, um físico.

Vários dissidentes afirmam à AFP terem recorrido a aplicativos de mensagem instantânea criptografado como Telegram, ou por WhatsApp para se comunicar.

De acordo com um dissidente preso de 2013 a 2016, "o espaço das liberdades civis está diminuindo". As reservas de hotéis, ou de transporte, também são usadas para perseguir indivíduos. Para fazer uma viagem de trem na China, você precisa digitalizar o documento de identidade.

Em 2015, Pequim lançou o projeto de vigilância "Sharp Eyes" (Olhos Afiados), que este dissidente descreve como "onipresente".

A China tinha cerca de 176 milhões de câmeras de vigilância em 2016 contra 50 milhões nos Estados Unidos, de acordo com o gabinete do IHS Markit. Em 2022, subirão para 2,7 bilhões em um país de 1,4 bilhão de habitantes, ou seja, duas câmeras por pessoa.

Com o enriquecimento exponencial do país e a contínua propaganda, o regime até conseguiu erradicar o desejo de protestar, lamenta Li Datong, ex-editor-chefe do Diário da Juventude de Pequim, que está sendo vigiado desde o ano passado por criticar Xi Jinping.


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