Ao menos 18 civis morreram nesta quarta-feira em ataques aéreos do regime contra o último reduto jihadista na Síria, na região noroeste do país, onde os combates já fizeram mais de 70 mortos em 24 horas.
A província de Idleb e partes das províncias vizinhas de Hama, Aleppo e Latakia, controladas por jihadistas do Hayat Tahrir Al Sham (HTS, ex-braço da Al-Qaeda), são palcos desde o final de abril de combates entre os extremistas e forças pró-regime, apoiadas pela Rússia.
Desde terça-feira à noite, os combates fizeram 70 mortos, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Destes, 36 eram soldados do regime e 34 jihadistas.
Além disso, 18 civis morreram em ataques realizados durante a noite, incluindo 12 em um mercado na cidade de Maaret Al Numan.
O OSDH, que tem uma ampla rede de fontes no país, também citou 18 feridos nos bombardeios.
O ataque teve como alvo um mercado da região e foi conduzido pelo regime de Damasco, de acordo com a ONG.
Segundo testemunhas, a zona estava cheia de gente, uma vez que muitos moradores estavam no mercado para a ruptura do jejum do Ramadã.
"Muitas lojas foram destruídas e o chão estava cheio de pedaços de corpos e de cadáveres", declarou à AFP Khaled Ahmad, proprietário de uma loja.
- Acordo ameaçado -
A Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, atua na Síria desde 2015 e participa desde abril nos ataques contra a província de Idleb e seus arredores, que não estão sob controle de Damasco.
A província, último reduto jihadista, foi objeto de um acordo entre Moscou e Ancara em uma "zona desmilitarizada" para evitar uma grande ofensiva.
Mas desde o fim de abril, as forças do regime sírio e da Rússia intensificaram os ataques aéreos contra alguns setores sob controle do HTS em Idleb e na província vizinha de Hama.
Ao menos 180 civis morreram desde 30 de abril em consequência dos confrontos, de acordo com o OSDH.
Nesta quarta, os combates eram travados no norte da província de Hama. Segundo o OSDH, o grupo jihadista tomou a maior parte da cidade de Kafr Nabuda.
Essa nova escalada de violência faz temer o fim do acordo russo-turco.
Na terça, o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, acusou o regime sírio de ameaçar o acordo de cessar-fogo.
"O regime faz tudo para mudar o status quo, inclusive utilizando barris de explosivos e conduzindo uma ofensiva terrestre e aérea", declarou Akar à imprensa.
- Ataque químico não confirmado -
Na sexta-feira passada, a ONU soou o alarme sobre o risco de uma "catástrofe humanitária" em Idleb durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), mais de 200.000 pessoas fugiram dos combates na região.
O Escritório também denunciou que os ataques russos e sírios atingiram 20 centros médicos - dos quais 19 já estão fora de serviço -, além de 17 escolas e três campos de deslocados.
A região é o lar de mais de três milhões de pessoas que vivem em condições particularmente difíceis.
"Apesar de nossas repetidas advertências, nossos piores temores estão se tornando realidade", disse o porta-voz do OCHA, David Swanson.
O governo sírio, com o apoio de Moscou e Teerã, recuperou nos últimos ano o controle sobre quase 60% do país.
Na terça-feira, os Estados Unidos relataram "indícios" de que Damasco havia conduzido um novo "ataque" químico dois dias antes no reduto jihadista, ameaçando com represálias.
O OSDH, porém, afirmou não ter "provas" de um suposto ataque com cloro.
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