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Estado de Minas

Cruzada ideológica de Bolsonaro atinge a educação no Brasil


postado em 10/05/2019 10:55

A guerra ideológica travada no Brasil pelo governo de Jair Bolsonaro em nome de sua cruzada contra o "marxismo cultural" atinge em cheio a Educação, uma área já bastante debilitada, preocupando os especialistas.

Cortes orçamentários para as universidades, brigas dentro do ministério, anúncios contraditórios em seguida, demissão forçada do ministro após três meses de um mandato calamitoso, a Educação no Brasil vive momentos difíceis.

O anúncio na semana passada de um congelamento de 30% das verbas destinadas às universidades federais pelo novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, um tecnocrata, fez com que estudantes e professores saíssem às ruas.

Esta semana, a interrupção repentina do pagamento de bolsas de mestrado e doutorado nas áreas de ciências e humanas mergulhou pesquisadores e universidades no estupor.

A esquerda convocou uma manifestação no Rio de Janeiro nesta sexta-feira liderada por Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e candidato presidencial derrotado por Bolsonaro, que vê nas preocupações contábeis do ministro uma "alergia da direita à educação".

Weintraub defendeu-se de querer, com o congelamento das verbas, silenciar a contestação em algumas universidades, e se justificou evocando as dificuldades econômicas do Brasil.

Contudo, antes de generalizar esta medida a todas as universidades públicas, Abraham Weintraub anunciou primeiro o congelamento dos recursos para três universidades. Ele advertiu que as "universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas".

- Filosofia e sociologia -

A Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Nacional de Brasília (UNB) tiveram recentemente manifestações contra o fascismo ou debates com políticos de esquerda.

O que não impediu que duas melhorassem sua classificação na Times Higher Education (THE), revista inglesa de referência neste campo.

O secretário para a Educação Arnaldo Barbosa de Lima assegurou à AFP que a redução dos recursos "não é ideológica (...) As universidades continuam tendo autonomia sobre os cursos e áreas que querem fomentar".

Mas reitores de universidades explicaram que esses cortes orçamentários vão comprometer, sim, o funcionamento das universidades federais, principalmente em razão do fim dos contratos de limpeza e manutenção e de segurança.

A reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Goulart Almeida, explicou que as restrições no orçamento poderão provocar cortes de eletricidade o que faria perder anos de pesquisa científica.

"O nome que a gente tecnicamente dé é contingenciamento, isso ocorre algum tempo no brasil, mas não na intensidade que foi anunciado agora", lamentou Gregorio Grisa, doutor em Educação.

O ministro já havia causado polêmica no final de abril ao falar de uma redução dos fundos público alocados aos departamentos de filosofia e de sociologia das universidades.

"O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina", explicou.

- "Desconhecimento do sistema educacional" -

Um coletivo de acadêmicos de todo o mundo reagiu aos corte publicando uma coluna no jornal Le Monde esta semana.

"Em nossas sociedades democráticas (...) a avaliação do conhecimento e de sua utilidade não deve ser conduzida em termos de conformidade com uma ideologia dominante", apontaram os signatários. "Nossas sociedades, incluindo o Brasil, precisam de mais - e não menos - educação".

"O ministério da Educação explana cenários que não são relevantes para a Educação", diz Gregorio Grisa, lamentando "a improvisação, uma mistura de ideologia e desconhecimento do sistema educacional".

O Brasil gasta quase 6% do seu PIB em Educação, mas seus resultados são inferiores aos de outros países da região (Chile, Colômbia ou Uruguai), segundo os testes Pisa da OCDE.

Para os especialistas, as especificidades demográficas e socioeconômicas deste país de quase 210 milhões de habitantes com desigualdades gritantes exigem maiores investimentos em educação.

Jair Bolsonaro, que chegou ao poder em janeiro, criticou a suposta doutrinação de estudantes por professores de esquerda e promoveu a proliferação de colégios militares no país.


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