Jornal Estado de Minas

Mianmar anistia e liberta jornalistas da Reuters

Dois jornalistas da Reuters condenados a sete anos de prisão em Miamnar após uma investigação sobre um massacre de muçulmanos rohingyas foram libertados nesta terça-feira após uma campanha mundial.

Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram cercados por jornalistas quando deixaram a prisão de Yangon em que passaram mais de 500 dias detidos.

"Sou jornalista e vou continuar com meu trabalho", declarou Wa Lone, 33 anos. "Obrigado a todos os que me ajudaram e apoiaram, aqui e no exterior, durante estes dias em que ficamos na prisão", completou.

"Estamos extremamente contentes de que Mianmar tenha libertado nossos valentes repórteres", afirmou a Reuters em um comunicado.

"Desde sua detenção, há 511 dias, se tornaram símbolos da importância da liberdade de imprensa em todo o mundo. Celebramos seu retorno".

A ONU celebrou a libertação, que aconteceu no âmbito de um indultou, e a considerou um "passo para uma liberdade de imprensa maior e uma demonstração do compromisso do governo em favor da transição democrática em Mianmar".

A organização Anistia Internacional considerou a libertação uma "importante vitória para a liberdade de imprensa". A Human Rights Watch destacou que a "crise não acabou".

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, também comemorou a notícia.

"Os Estados Unidos celebram a decisão de Mianmar de libertar os jornalistas da Reuters Wa Lone e Kyaw Soe Oo, liberando-os para que voltem a estar com suas famílias depois de cerca de 500 dias de detenção", disse Pompeo no Twitter.

A porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos denunciou uma "situação catastrófica" para a liberdade de expressão.

Os jornalistas foram liberados em nome "do interesse nacional a longo prazo", afirmou o porta-voz do governo, Zaw Htay.

"Nosso país respeita verdadeiramente os direito humanos", insistiu Win Myat Aye, ministro do governo de Aung San Suu Kyi, que se recusou a comentar a situação.

Durante o ano e meio que permaneceram detidos, os dois repórteres perderam importantes acontecimentos familiares, como o nascimento da filha de Wa Lone.

"Estamos muito felizes", afirmou Chit Su Win, esposa de Kyaw Soe Oo, 29 anos, à AFP.

A Suprema Corte havia rejeitado há algumas semanas o recurso dos jornalistas da Reuters. A condenação da dupla gerou uma onda de indignação internacional.

A investigação dos profissionais da Reuters venceu o prêmio Pulitzer, um dos principais do jornalismo.

Eles também foram reconhecidos pela Unesco e designados, ao lado de vários companheiros de profissão, personalidades do ano de 2018 pela revista Time.

Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram condenados por infração à lei sobre segredos de Estado, que data da época colonial.

O caso virou um exemplo da guerra contra a liberdade de imprensa e motivou uma campanha internacional que atraiu a atenção da advogada especializada em direitos humanos Amal Clooney, que nesta terça-feira declarou ter sido uma "honra representar" seus clientes.

- "Armadilha" -

Os dois eram acusados de acessar documentos secretos relativos às operações das forças birmanesas de segurança no estado de Rakhine, no noroeste de Mianmar, palco de abusos contra a minoria muçulmana rohingya.

No momento de sua prisão, em dezembro de 2017, investigavam um massacre de rohingyas em Inn Din, uma localidade do norte do estado de Rakhine.

Desde então, o exército reconheceu que ocorreram excessos e sete militares foram condenados a 10 anos de prisão

Os dois jornalistas sempre alegaram que foram enganados.

Um dos policiais que depôs sobre o caso disse que a entrega dos documentos secretos foi uma "armadilha" para impedir que os jornalistas prosseguissem com seu trabalho.

Vários ativistas dos direitos humanos pediram à vencedora do Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, líder de fato do governo birmanês, que utilizasse sua influência para que os jornalistas recebessem um indulto presidencial.

Mas até o momento ela se negou a intervir, alegando a independência da justiça.

Suu Kyi, muito criticada por seu silêncio sobre o drama dos rohingyas, chegou a justificar a prisão dos dois, "não porque são jornalistas, e sim porque infringiram a lei".

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