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Estado de Minas

Indígenas defendem em Brasília seus direitos contra políticas de Bolsonaro


postado em 24/04/2019 19:13

Milhares de indígenas instalaram nesta quarta-feira (24) em Brasília seu tradicional "Acampamento Terra Livre", focado este ano na denúncia da expansão das atividades minerais e agropecuárias favorecidas pelo presidente Jair Bolsonaro.

A expectativa é reunir cerca de quatro mil indígenas na capital, durante três dias.

Apesar da tensão, com a presença de dezenas de patrulhas e forças de segurança ao redor do campo, os manifestantes começaram suas atividades dançando e cantando para exigir força e invocar proteção.

"Nossas terras são sagradas. Não à mineração em terras indígenas", proclama um dos cartazes instalados diante do acampamento montado na frente do Congresso nacional.

"Nossos direitos não são negociáveis", diz outro cartaz.

Ainda era madrugada quando os líderes indígenas começaram a instalar seu "Acampamento Terra Livre" na Esplanada nos Ministérios, mas já no meio da manhã os organizadores e a polícia concordaram em ficar um pouco mais distante.

"Viemos aqui por uma causa importante. Foi muito difícil para nós, nossos ancestrais, conquistar esses direitos e, pouco a pouco, eles estão diminuindo. Viemos aqui para pedir mais respeito", afirmou Camila Silveiro, de 22 anos, estudante do Ensino Médio do grupo étnico Kaingang, originário do Paraná.

O governo se manifestou em várias ocasiões contra novas demarcações de terras indígenas e a favor da expansão de atividades econômicas questionadas pelos povos originários e pelos defensores do meio ambiente na Amazônia e outros biomas.

Logo após tomar posse, Bolsonaro despojou a Fundação Nacional do Índio (Funai) de suas atribuições de demarcar terras indígenas e outorgar licenças ambientais, deixando essas tarefas na mãos do ministério de Agricultura dirigido por Tereza Cristina da Costa, ex-líder da bancada do agronegócio na Câmara.

"Temos a maior riqueza do mundo, que é nossa floresta, nosso rio. Para nós não importa a riqueza, importa a natureza. No dia que acabar com a população indígena, derrubar a última árvore, esse país vai acabar. Não só nosso povo, o mundo", declarou à imprensa o cacique guarani Dará.

- Terra, saúde e educação -

O "Acampamento da Terra Livre" acontece desde 2004 e ficará na cidade até sexta, servindo de espaço de encontro para os líderes das dezenas de comunidades indígenas no Brasil e para a exposição das demandas das comunidades indígenas, concentradas no direito à terra, à saúde e à educação.

"Desde 1º de janeiro [quando Bolsonaro assumiu o cargo], o governo atacou os povos indígenas em todos os seus direitos, sendo um deles a educação", disse à AFP Luana Kumaruara, 33 anos, natural do Pará e professora de Antropologia.

Kumaruara, que está fazendo seu terceiro acampamento, lembrou que o primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, Ricardo Vélez (dispensado este mês), continuou dizendo que a universidade não era para todos, o que afetaria o acesso ao ensino superior, tradicionalmente com menos recursos.

Na semana passada, Bolsonaro questionou a organização deste acampamento.

"Vai acontecer um grande encontro de indígenas na próxima semana. Dez mil indígenas são esperados aqui em Brasília, e quem pagará a conta pelos dez mil índios que vêm? Você", afirmou em uma transmissão ao vivo no Facebook.

Essa afirmação foi imediatamente refutada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), responsável pelo evento, que garantiu que a iniciativa é financiada com campanhas próprias de captação de recursos.

"Como sempre, vamos continuar resistindo", proclamou Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Apib.

Segundo dados oficiais, cerca de 800 mil indígenas de 305 grupos étnicos vivem no Brasil, um país com 209 milhões de habitantes.

A Constituição brasileira determina que esses povos tenham o direito de usufruto exclusivo das terras que ocupam, mas a demarcação é ameaçada pela exploração madeireira ilegal, pela expansão da pecuária e pelo avanço da fronteira agrícola.

Pouco depois de sua eleição, Bolsonaro apontou para a continuidade dessa política.

"Por que manter os indígenas isolados em reservas, como animais em um zoológico?", questionou.

"Como nós, eles querem evoluir, querem ter médicos, dentistas, acesso à Internet, viajar de avião", afirmou.

Representantes indígenas participarão na quinta-feira de uma audiência pública na Câmara dos Deputados e realizarão encontros para analisar a situação das mulheres e jovens desses povos.

Na sexta-feira, apresentarão rituais tradicionais e uma marcha e aprovarão uma "agenda de luta".


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