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Estado de Minas

Atentados no Sri Lanka despertam lembranças dos anos obscuros da guerra civil


postado em 22/04/2019 13:43

Para muitos cidadãos do Sri Lanka, os atentados do Domingo de Páscoa despertaram a terrível lembrança da violência do período obscuro da guerra civil, que chegou a seu fim há dez anos.

"Agora temos medo de tocar os sacos de lixo pretos. A série de explosões de ontem nos trouxe à memória a época em que tínhamos medo de pegar ônibus, ou trem, por causa dos pacotes-bomba", declarou a gari Malathi Wickrama, que trabalha na capital, Colombo.

O conflito, que durante mais de 30 anos colocou em lados opostos a maioria cingalesa e a rebelião separatista tâmil, custou a vida de mais de 100.000 pessoas entre 1972 e 2009, segundo estimativas das Nações Unidas.

Nessa época, os atentados a bomba eram comuns. A população vivia com medo de ser atingida apenas andando pela rua, ou em algum transporte público.

Arrasada no domingo por uma série de atentados suicidas em hotéis de luxo e igrejas, o país não vivia esse tipo de violência desde então. Nesta segunda-feira, o balanço atualizado de vítimas era de 290 mortos e 500 feridos.

"Ontem transportei umas oito crianças feridas", contou à AFP Shantha Prasad, que ajudou a levar macas para um hospital de Colombo.

"Havia duas meninas de seis e oito anos, a mesma idade das minhas filhas", lembra ele, emocionado.

"Suas roupas estavam rasgadas e manchadas de sangue. É insuportável voltar a ver este tipo de violência", desabafou.

- Aparência de normalidade -

Embora tenha sido decretado estado de emergência a partir da meia-noite local (15h30 em Brasília), por questões de segurança, os moradores de Colombo, abalados, começavam pouco a pouco a voltar a andar pelas ruas da capital. A segurança foi reforçada em Colombo.

As escolas e a Bolsa permaneceram fechadas, mas algumas lojas abriram suas portas. O transporte público funcionava de novo.

Imtiaz Ali, um condutor de tuk-tuk - os típicos triciclos motorizados do Sudeste Asiático -, perdeu o sobrinho na explosão ocorrida no Cinnamon Grand Hotel.

"O garoto tinha apenas 23 anos. Era gerente no hotel e ia se casar na próxima semana", contou à AFP.

"Tínhamos feito todos os preparativos para a celebração do casamento em casa, mas hoje é um lugar de luto", lamentou.

Outros, decididos a aparentar normalidade apesar da tragédia, seguiam para o trabalho, como de costume.

"Somos um povo resistente", resume Nuwan Samarweera, na faixa dos 50 anos.

"Vimos tanta violência durante a guerra civil. Para o restante do mundo isso pode parecer enorme, mas, para nós, a vida continua", afirma. "Precisamos nos recompor e continuar", insistiu.

Ranjan Christopher Fernand, um motorista de táxi de 55 anos, que tem um amigo que perdeu o filho de 11 anos, comenta que "é a primeira vez que os cristãos são atacados desta maneira no Sri Lanka".

"Esta noite, vamos à igreja rezar pelas vítimas. Tenho medo, é claro [...], Mas temos de ir à igreja. Temos de rezar para que os feridos se recuperem rapidamente", conta.

- 'Sem palavras' -

Em um necrotério de Colombo, as famílias das vítimas enfrentam a difícil tarefa de identificá-las através de fotos mostradas em um telão. Alguns, incapazes de suportar a cena, cobrem os olhos, ou desmaiam.

Em um canto do pátio, dois religiosos, um católico e um budista, esperam para se aproximar e poder consolar, depois que a pessoa faz o reconhecimento de um ente querido.

Muitos restos mortais estão amputados, de tal modo que apenas um teste de DNA pode confirmar sua identidade, disseram as autoridades.

"É uma situação sem precedentes. Fazemos o que podemos", resigna-se um funcionário do necrotério, assoberbado pelos acontecimentos.

Janaka Shaktivel, de 28 e pai de um menino de 18 meses, perdeu a esposa no atentado à igreja de Santo Antônio. Ele se salvou, porque foi para a escadaria para consolar o bebê que chorava.

"Reconheci seu corpo pela aliança que ainda levava", disse ele, pálido e abatido.

"Não tenho palavras para expressar o que sinto", desabafou.


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