O assessor presidencial para assuntos internacionais, Filipe Martins, e o deputado estadual e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), reagiram ontem à declaração do prefeito de Nova York, Bill De Blasio, de que Jair Bolsonaro é um "ser humano perigoso".
"Surpresa seria uma toupeira dessas o elogiar", escreveu Filipe Martins no Twitter. "Não há surpresa alguma em ver Bill de Blasio - um sujeito que colaborou com a revolução sandinista, que considera a URSS um exemplo a ser seguido e que faz comícios no monumento dedicado a Gramsci no Bronx - criticando o PR Bolsonaro."
Já o filho do presidente associou as críticas ao "globalismo". Ele replicou publicação do também deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR) em que ele escreve: "É a prova que o idiota não habita somente a América Latina. O idiota está por toda parte". Eduardo completou: "O movimento cultural que ocorre no Brasil ocorre da exata e mesma forma no Chile, Inglaterra, França e, claro, nos EUA. Isso visa a construção de um novo mundo suprimindo as culturas locais. Depois falamos que são GLOBALISTAS e ainda há quem queira fazer chacota conosco."
A declaração de De Blasio foi feita durante entrevista na sexta-feira à rádio WNYC, na qual pediu que uma homenagem a Bolsonaro programada para ocorrer no Museu de História Natural dos Estados Unidos em 14 de maio seja cancelada. "Bolsonaro não é perigoso somente por causa de seu racismo e homofobia evidentes", afirmou.
Evento
O prefeito comentou a cerimônia de gala da Câmara de Comércio Brasil-EUA para homenagear Bolsonaro como "Personalidade do Ano". A entidade reservou o Museu de História Natural, em Nova York, para conceder a honraria. Todo ano a Câmara escolhe duas personalidades, uma americana e uma brasileira, e as premia em jantar de gala para mais de mil convidados, com entradas ao preço individual de US$ 30 mil, que estão esgotadas. O nome do americano homenageado este ano ainda não foi divulgado. Em 2018, o evento homenageou Sérgio Moro, atual ministro da Justiça.
Em seu site, a Câmara publicou breve biografia do presidente brasileiro, em que diz que, em seus sete mandatos como deputado federal, Bolsonaro "enfatizou a importância dos valores cristãos e da família". Em nota, a Câmara confirmou a entrega do prêmio e afirmou que "a relevância da premiação não tem relação com o local onde é entregue, mas com os atributos de quem recebe tão distinta honraria".
Os críticos destacam especialmente a peculiar situação que representa o fato de que a figura de Bolsonaro seja celebrada no Museu de História Natural de Nova York, sob a figura de uma baleia azul que decora um espaço dedicado à vida marinha, quando uma das primeiras medidas de seu governo coloca em perigo a proteção da Amazônia.
Em carta aberta publicada quarta-feira no jornal francês Le Monde, representantes de grupos indígenas brasileiros denunciaram as políticas ambientais de Bolsonaro, alegando que elas os deixaram "à beira do apocalipse".
Preocupação
O museu expressou na quinta-feira profunda preocupação com a homenagem ao presidente brasileiro. "O evento externo e privado, no qual o atual presidente do Brasil será homenageado, foi reservado no museu antes de o homenageado ser escolhido", ressaltou a instituição no Twitter. "Estamos profundamente preocupados e estamos explorando nossas opções."
Grupos civis, como o Decolonizing This Place, afirmaram que "não só protestarão", mas forçarão o fechamento do museu caso a homenagem seja mesmo realizada.
Apoio à causa dos sandistas na Nicarágua
Bill de Blasio, eleito em 2013 o primeiro democrata prefeito de Nova York depois de duas décadas de administração republicana, ajudou os sandinistas da Nicarágua nos anos 80 e foi, como outros líderes, um duro crítico do envolvimento dos Estados Unidos no país latino-americano.
Na época, o governo do presidente republicano Ronald Reagan patrocinou ilegalmente um grupo de contrarrevolucionários, os chamados Contras, em sua luta contra o governo sandinista de esquerda. Em 1988, De Blasio, então com 26 anos, viajou para a Nicarágua, onde ajudou a arrecadar dinheiro para a Frente Sandinista de Libertação Nacional e a distribuir comida e remédios durante a revolução.
De volta aos EUA, ele manteve seu respaldo aos sandinistas colaborando com um grupo chamado Rede de Solidariedade com a Nicarágua, embora depois tenha se desvinculado progressivamente, segundo ele porque estava desencantado pelo modo como o governo sandinista tratava a oposição e a imprensa. Em 1994, De Blasio passou parte de sua lua de mel em Cuba, violando a proibição de viajar à ilha comunista que então existia nos Estados Unidos..