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Estado de Minas

Punir clubes por xingamentos da torcida é possível, mas não suficiente


postado em 27/03/2019 16:55

Na França, clubes de futebol podem ser punidos quando seus torcedores proferem gritos homofóbicos ou racistas, mas especialistas pedem um maior diálogo com os fãs e a sensibilização da torcida nessa questão para um melhor entendimento entre as partes.

A ministra dos esportes, Roxana Maracineanu, reabriu um velho debate neste fim de semana julgando "inadmissíveis" os cantos ouvidos no último clássico entre Paris Saint-Germain e Olympique de Marselha no Parque dos Príncipes, no dia 17 de março.

Nessa noite, uma parte das torcidas organizadas parisienses não compareceu nos primeiros quinze minutos de jogo, em protesto contra a eliminação na Liga dos Campeões contra o Manchester United. Além disso, entoaram cantos contra os torcedores do OM chamando-os de "ratos", "bichas" e "veados".

Chamada de "cândida" ou "ursinha carinhosa", e atacada com uma enxurrada de xingamentos sexistas nas redes sociais, a ministra reafirmou ser favorável a sanções contra os clubes para "responsabilizá-los". "A fragilidade, o fracasso e a derrota não podem ser associados à imagem da feminilidade e à homossexualidade", acrescentou ela durante uma reunião da Instância nacional responsável pelas torcidas.

. Sanções anuladas

Na teoria, penalidades disciplinares são possíveis. O regulamento da Liga de futebol profissional (LFP) prevê que "toda expressão oral e visual podendo provocar ódio ou violência em relação a qualquer pessoa ou grupo de pessoas está proibida".

"Essas sanções só podem ser aplicadas contra os clubes e seus dirigentes", explicou, em junho de 2018, o diretor-geral da LFP, Didier Quillot, em um e-mail de resposta ao grupo Rouge Direct, ex-Paris Foot Gay, que luta contra a homofobia nos estádios. Ele argumentava que os casos são raros, "levando em conta inclusive a dificuldade de constatar e materializar os fatos passíveis de punição", antes de citar as ações de prevenção da LFP.

Em 2007 e 2008, o Bastia foi sancionado em duas ocasiões com a retirada de pontos - sendo que na primeira vez foi anulado pela justiça administrativa - devido à atitude racista de seus torcedores contra o atacante de Burkina Faso que naquele período jogava no Libourne, Boubacar Kébé.

Na mesma época, a justiça administrativa também havia anulado a exclusão do PSG da Copa da Liga por um ano, como punição devido à faixa onde se lia "Pedófilos, desempregados, consanguíneos: bem-vindos à casa dos Ch'tis (moradores do nordeste da França)", jogando em Lens.

. "Folclore"

A palavra "pédé" (abreviação para pederasta, em francês) é ainda usado com frequência nos cantos e a atitude da LFP mostra "hipocrisia", segundo o porta-voz da Rouge Direct, Julien Pontes.

"Se fecharmos os olhos, tamparmos os ouvidos, pararmos de formar fiscais, de colocar observadores, realmente não podemos constatar nada", afirma ele.

Na segunda-feira, a presidente da LFP, Nathalie Boy de la Tour, assinou uma parceria com a Liga internacional contra o racismo e o antissemitismo (Licra), destinado a identificar melhor os cantos quando eles geram problemas. Mas, ao mesmo tempo, ela chocou associações ao afirmar que "para muitos torcedores, faz parte do folclore".

É preciso então levar muito em conta, segundo o sociólogo especialista em torcidas, Nicolas Hourcade, que convida a "compreender essa cultura onde o insulto do adversário está profundamente enraizado e a violência verbal é aceita". O que não impede, segundo ele, algumas tomadas de consciência.

. Diálogo

Muitos atores citam como exemplo um torneio organizado no Insep (Instituto Nacional do Esporte, Especialização e Performance) há muitos anos entre o Paris Foot Gay e membros de torcidas organizadas. Nicolas Hourcade se lembra de "um grande momento de troca sobre os significados dos cantos para os torcedores", sobre a maneira como era "percebido pelas associações de luta contra a homofobia".

"Todo mundo deve refletir para ver como esses cantos podem ser menos ofensivos, menos discriminatórios para uma parte da população (...) mas daí a falar de um problema profundo de homofobia nas arquibancadas, não acho que seja a realidade", avalia também Ronan Evain, o coordenador da rede Football supporters Europe (FSE).

"Por meio do diálogo, conseguimos resolver vários problemas. Conversando com os torcedores tudo dá certo", diz também o porta-voz da Rouge Direct. "Mas a sanção, é também uma forma de pedagogia", argumenta Julien Pontes.


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