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Estado de Minas

Havana, paraíso do sidecar da era soviética


postado em 22/03/2019 18:25

Conhecida em todo mundo por seus automóveis americanos antigos, a capital de Cuba também é o paraíso de motocicletas com sidecar originárias de países que não existem mais, como União Soviética, Checoslováquia e Alemanha Oriental, de um período no qual a ilha vivia na órbita soviética.

Ao volante de uma Jawa 350, fabricada em 1989, e de cor vermelha brilhante, Alejandro Prohenza se enche de orgulho: "Muitos turistas gostam de tirar fotos dela. Não sei, talvez vejam como algo de uma era passada".

Um dia, "um boliviano me disse que nunca tinha visto este tipo de moto, que só tinha visto uma moto com sidecar nos filmes (sobre) nazistas".

Gerente de um "paladar" (restaurante privado), este homem de 48 anos recebe regularmente ofertas de compra. Mas não cogita vender o veículo, no qual viajam a mulher e o filho, transporta mercadorias e leva compras para o restaurante.

"São bem práticas!", afirma Alejandro, que considera a motocicleta como sua "segunda" filha e está feliz por não ter que levá-la sempre ao mecânico.

Raras na Europa, estas motos, que trazem presas ao lado um compartimento para passageiro com uma única roda, circulam às centenas pelas ruas de Havana.

E sua história também reflete a de Cuba, que após a revolução socialista em 1959, se distanciou politicamente dos Estados Unidos e encontrou na ex-URSS um oportuno irmão mais velho até a década de 1990.

As marcas das motos que trafegam pelas ruas e estradas da ilha são um convite para uma viagem no tempo: Ural, Dnieper e Júpiter (da ex-URSS), Jawa e CZ (da extinta Tchecoslováquia) e MZ (da antiga República Democrática Alemã).

Chegaram a Cuba nas décadas de 1960 e 1970, sendo adotadas primeiramente pelo exército, empresas públicas e agricultores, antes de serem gradualmente adquiridas pelo restante da sociedade.

- "Normal" em Cuba-

Foi assim como José Antonio Ceoane Núñez, de 46 anos, obteve sua Júpiter 3 vermelho brilhante: "Quando o governo cubano as comprou dos russos em 1981, foi para empresas estatais".

Mais tarde, "foram vendidas aos funcionários mais destacados por seus méritos profissionais". E foi assim que o pai de Ceoane, que trabalhava numa empresa de estatísticas, conseguiu uma.

"Não a venderei de maneira alguma porque com ela me movo e trabalho. É meu meio de transporte, e em Cuba não há muitos", garante José Antonio, que viaja regularmente com o sobrinho, um amigo, ou com a namorada e a cunhada.

Seu aspecto obsoleto é o que chama a atenção dos turistas, que os leva a viajar no tempo, mas "aqui é comum, normal", confessa Enrique Oropesa, um instrutor de direção de 59 anos, que ensina como pilotar motos com sidecar.

Oropesa tem uma Ural verde ano 1977, que cuida com todo carinho: "Gosto muito, em primeiro lugar porque é o meio de transporte da minha família, e em segundo lugar porque é uma fonte de renda".

Apesar de custar menos que um automóvel, muitos cubanos não têm como comprar uma.

Sentado no compartimento do passageiro, Enrique ensina aos aspirantes à licença que permite dirigir este veículo todas as dicas de pilotagem "O mais difícil é (aprender a conduzir) sem o sidecar, porque com um sidecar você se sente mais seguro", graças ao apoio desse compartimento lateral.

Vivendo na ilha com a esposa cubana há dois anos, Philippe Ruiz, um francês de 38 anos, não percebeu inicialmente a grande quantidade destes veículos circulando por Havana.

"Quando comecei a me interessar por isso, me dei conta que via 50, 100 por dia".

Empenhado em reformar uma casa, observou que muitas motos com sidecar são utilizadas para transportar materiais de construção.

Graças a um anúncio na internet, encontrou há alguns meses uma Ural azul ano 1979, por "6.500 euros com pequeno reboque".

"É um ano mais velha do que eu e eu estou em pior estado", brinca. "Mas quando chegamos em casa, as coisas começaram a complicar. A moto esteve bem até chegarmos aqui, mas depois tivemos que fazer consertos nela por todos os lados".

Por conta da falta de peças em Cuba, "as pessoas se veem obrigadas a trazê-las do exterior", o que atrasa o reparo.

Mas não se arrepende da compra. Motociclista na França, Ruiz descobriu novas sensações ao volante do motor russo: "É muito divertido, é muito diferente de conduzir uma moto sem sidecar, porque não podemos virar igual, não pode sair de lado, assim é necessário aprender a pilotar novamente".

"É especialmente divertido em família, porque você pode colocar uma criança no sidecar, minha esposa e as malas", acrescentou este pai de um menino de oito anos.

Assim que tiver consertado a moto, o francês pretende trabalhar com ela. Levando turistas para percorrer Havana no veículo. "Penso que isto será algo diferente do aluguel de carros conversíveis (americanos) que temos aqui".


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