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Estado de Minas

Visita de Bolsonaro a Trump: vitória diplomática ou submissão ideológica?


postado em 20/03/2019 10:31

Vitória diplomática, ou peregrinação às fontes da extrema direita, marcadas por concessões unilaterais? A visita do presidente Jair Bolsonaro a seu homólogo americano Donald Trump divide os analistas e agita redes sociais.

"Deixamos a América com a sensação de missão cumprida. Avanços importantes alcançados na área econômica, de segurança e política externa, bem como a consolidação do novo caminho de forte amizade entre Brasil e Estados Unidos. Vamos cooperar para o bem de nossos povos", tuitou Bolsonaro antes de embarcar em Washington para voltar nesta quarta para Brasília.

Um entusiasmo compartilhado pelo professor de relações internacionais Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"Este é o maior pacote de concessões já dado por um presidente americano a um colega brasileiro nos últimos trinta anos de democracia. Vitória enorme para Bolsonaro. E cheia de repercussões para as relações do Brasil com a China e com o resto da América do Sul", escreveu Spektor no Twitter.

Respondendo à pergunta de um usuário sobre quais seriam as concessões, Spektor esclareceu: "OCDE, principal aliado extra-Otan, [base de lançamento de satélites de] Alcântara (...), Projeção de uma identidade comum (fé, família e nação)".

Para outros especialistas, no entanto, o Brasil cedeu em aspectos concretos em troca de meras promessas, além de comprar possíveis e desnecessárias inimizades diplomáticas.

- Uma aliança diplomática -

O Brasil, que já é um dos pilares da pressão sobre o regime socialista venezuelano, pode se tornar um "aliado prioritário [dos Estados Unidos] fora da Otan", segundo comunicado conjunto emitido ao final da visita.

Os Estados Unidos também se ofereceram para apoiar a candidatura do Brasil à OCDE, um clube de países ricos, sob a condição de que renuncie ao status de país emergente nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Duas vias de alto risco, segundo o ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Ricupero.

Ser um "aliado prioritário" de Washington, disse o diplomata, significa "comprar a agenda de segurança dos Estados Unidos: contenção da China, hostilidade à Rússia, hostilidade ao Irã e combate permanente contra o terrorismo fundamentalista islâmico".

Pontos que "pouco ou nada tem a ver com os interesses do Brasil" e que poderia resultar em "uma séria limitação de sua política externa", diz Ricupero, que foi secretário-geral do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

A renúncia ao tratamento diferenciado na OMC seria, por sua vez, "um desastre, pois teria efeitos muito negativos em termos de tarifas e afastaria o Brasil dos países em desenvolvimento, com os quais sempre conduzimos uma política comum", alertou.

O Brasil também anunciou durante a visita a eliminação da exigência de vistos para americanos, canadenses, japoneses e australianos, mas sem reciprocidade.

Brasília fez concessões e "só recebeu algumas promessas", afirma David Fleischer, professor emérito de Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB).

O acadêmico americano acredita, além disso, que essas promessas dificilmente serão cumpridas, porque Washington tem uma política externa muito independente", definida por Trump como "Estados Unidos primeiro".

- Peregrinação religiosa -

Bolsonaro colocou forte ênfase na agenda ultraconservadora compartilhada com Trump, baseada em valores familiares e religiosos.

Para Ricupero, foi "mais uma peregrinação religiosa às fontes da extrema direita americana" do que de uma visita oficial.

O cientista político da Universidade de São Paulo (USP) Rubens Figueiredo considerou uma visita "positiva, mas não ideal".

"A visita foi um ponto de inflexão nas relações de Brasil com os Estados Unidos depois dos governos do PT (...) O Brasil está abrindo sua economia para um importante sócio comercial", destacou.

"Foi uma visita positiva, mas não ideal, por exemplo, porque os Estados Unidos não retiraram os vistos para os cidadãos brasileiros (...) mas agora teremos acesso a nova tecnologia", acrescentou, referindo-se ao acordo da base de Alcântara.

- Memes e mitos -

Outros anúncios: o Brasil comprará 750 mil toneladas anuais de trigo americano sem tarifas de importação, enquanto os Estados Unidos enviarão uma visita técnica para uma eventual retomada das importações brasileiras de carne, suspensas desde 2017.

Além disso, os dois países apoiaram a criação de um fundo de 100 milhões de dólares para atrair "investimentos sustentáveis na região amazônica".

As redes sociais se agitaram com comentários e memes na guerra travada entre os que denunciaram uma atitude supostamente servil do líder brasileiro em relação a Donald Trump e seus orgulhosos partidários.

Um meme, na hashtag #BolsonaroEnvergonhaOBrasil, mostrou Bolsonaro como um cachorrinho de Trump nos jardins da Casa Branca, enquanto que outra, na hastag #BolsonaroOrgulhodoBrasil, ilustra o encontro com o abraço de dois heróis de um videogame.


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