Jornal Estado de Minas

Dia de calma na Argélia após candidatura de Buteflika

Muitos argelinos reprimiam, nesta segunda-feira (4), sua raiva depois de uma noite de protestos contra a formalização pelo presidente Abdelaziz Bouteflika de sua candidatura para um quinto mandato.

Os manifestantes não foram dissuadidos nem pela promessa de Buteflika de que, se for eleito, organizará eleições antecipadas e vai se abster de uma nova candidatura.

No domingo à noite, centenas de jovens tomaram as ruas de Argel e de muitas cidades - sem incidentes graves - gritando palavras de ordem como "não ao quinto mandato!" ou "fora Buteflika".

Nesta segunda, os argelinos saíram para trabalhar normalmente, mas muitos já anunciaram que participarão das marchas marcadas para sexta-feira, primeiro dia do final de semana e de orações nas mesquitas. As duas sextas-feiras anteriores foram marcadas por grandes protestos.

Esta candidatura "é um insulto ao povo", afirmou Mohamed, interrogado pela AFP no popular bairro de Bab el Uued.

Este aposentado de 69 anos disse que está preparado para protestar "pela primeira vez" na próxima sexta-feira: "Eles querem nos fazer crer que (Bouteflika) é o Messias, que é um profeta, que só ele pode salvar o país".

Desempregado de 22 anos, Karim é mais direto: Bouteflika "nos toma por idiotas. Não é não! Nós somos o povo, 42 milhões de pessoas. Não será um punhado (de autoridades), que irá impor a sua lei!".

- "Humilhação" -

Fisicamente debilitado por um acidente vascular cerebral (AVC) em 2013, que lhe causou afasia e uma grande perda de mobilidade, Bouteflika deve, a menos que haja uma surpresa inesperada, ver sua candidatura ser validada pelo Conselho Constitucional.

O Conselho é composto de pessoas leais ao chefe de Estado e deve decidir sobre a candidatura antes de 14 de março, enquanto o retorno à Argélia de Bouteflika, hospitalizado na Suíça há mais de uma semana para "exames médicos periódicos", ainda não foi anunciado.

Por causa da imagem projetada de seu país, Majda, uma estudante de medicina de 23 anos, se diz "envergonhada de dizer que sou argelina. Nós somos a chacota do mundo inteiro".

Nesta segunda-feira, a imprensa independente também expressava sua raiva.

Segundo o jornal El Watan, "ao apresentar sua candidatura, Abdelaziz Buteflika provou seu desprezo em relação aos argelinos e argelinas".

Esta quinta candidatura é "uma grande piada à Constituição" e "é sentida como uma afronta", "uma humilhação insuportável" pela maioria dos argelinos.

"Contra o povo", era a manchete do Liberty, para o qual a promessa de um mandato mais curto é uma "manobra" destinada a sufocar essa cólera. "enquanto recupera o controle".

"Buteflika ignora os protestos contra o quinto mandato" e "optou por não responder às demandas do povo", lamentou o jornal El Jabar.

Apenas o jornal pró-governo El Mudjahid vê nesta candidatura e nos compromissos assumidos "uma mensagem de esperança (...) de um homem (...) que tem o espírito de um estadista".

No total, vinte candidaturas foram apresentadas dentro do prazo estipulado, segundo a assessoria de imprensa oficial da APS, sem citar nomes.

Mas, na lista não aparece nenhum candidato de peso, já que os principais adversários de Buteflika renunciaram.

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