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Estado de Minas

ONG denuncia 'contradições' entre palavras e atos do papa sobre pedofilia


postado em 20/02/2019 10:31

Há uma contradição entre as declarações fortes do papa Francisco e suas ações para resolver a crise dos abusos sexuais dentro da Igreja católica, denunciou à AFP Anne Barret Doyle, diretora da BishopAccountability.org.

A organização com sede nos Estados Unidos, que reúne e examina há 15 anos informações sobre padres acusados de abusos sexuais contra menores de idade dentro da Igreja e os bispos acusados de acobertar os crimes, contribuiu para revelar diversos escândalos ao redor do mundo.

Pergunta: Vários escândalos de abusos sexuais foram revelados nos últimos anos dentro da Igreja católica. O contexto mudou?

Resposta: Este é um período sem precedentes. Nunca havíamos observado uma vontade como esta de responsabilizar a Igreja sobre os abusos no clero. E vem de fora da instituição, da mídia, dos parlamentares e dos governos. A era da impunidade dos padres católicos pedófilos está chegando ao fim.

Graças ao movimento #MeToo, somos mais sensíveis sobre o tema do trauma e como se manifesta. Agora, entendemos que são necessários anos para que uma vítima violentada ou agredida sexualmente em sua infância possa falar ou denunciar seu agressor. Graças ao #MeToo, as sociedades entendem melhor como os agressores sexuais atuam, como padres carismáticos ou celebridades muito populares eram predadores sem que ninguém soubesse.

P: Por que você está decepcionada com a resposta do papa Francisco?

R: Algumas de suas declarações são espetaculares. Em uma carta aos católicos chilenos em 2018, utilizou as palavras "cultura de abuso e da dissimulação", algo destacável. É também muito útil que tenha qualificado publicamente os crimes sexuais do clero de 'abominações', mas apesar disso não aconteceram reformas significativas.

Há uma contradição entre as declarações fortes do papa e seus atos. Além disso, aconteceram vários casos de obstrução da justiça. O Vaticano se nega a transmitir aos promotores chilenos uma cópia do relatório do arcebispo de Malta, Charles Scicluna (enviado em 2018 para ouvir as vítimas no Chile), que os ajudaria a levar à justiça os padres pedófilos e os arcebispos cúmplices.

O papa ainda não explicou o que sabia sobre o cardeal McCarrick (o papa foi acusado por um prelado em 2018 de ter permanecido em silêncio durante muito tempo sobre o comportamento homossexual predador do ex-cardeal americano Theodore McCarrick, recentemente expulso da Igreja).

O papa também autorizou o cardeal espanhol Luis Ladaria Ferrer (processado na França ao lado do cardeal Philippe Barbarin e outros por não denunciar as agressões sexuais cometidas por um padre) a invocar sua imunidade diplomática para não testemunhar no julgamento em janeiro. É um sinal de que o papa não é sincero quando promete fazer todo o possível para acabar com esta crise.

Em novembro, os bispos americanos reunidos em Assembleia Plenária estavam dispostos a adotar medidas limitadas para combater o abuso sexual, mas no último minuto o Vaticano interferiu para evitar uma votação. O que mais me entristece é a estratégia do papa de atuar como se tivesse pouco poder, quando sabemos que poderia adotar medidas fortes e rápidas, como uma emenda à lei canônica.

P: O que você pensa do trabalho da rede global de vítimas ECA ("Ending Clerical Abuse", em inglês), com a qual se encontra esta semana em Roma para realizar ações à margem da reunião do Vaticano sobre a "proteção de menores"?

R: É um trabalho enorme. Os próprios membros do ECA são sobreviventes destes abusos, estão muito motivados e convencidos. Muitos são ativistas reconhecidos em seus países para a proteção das crianças e dos sobreviventes de abuso sexual.

Os verdadeiros especialistas que sabem o que deve ser feito para resolver esta crise são as vítimas, não os bispos. Os bispos tiveram várias décadas para solucionar este problema e fracassaram. O Vaticano teve décadas para resolvê-lo e fracassou. Continuam usando os mesmos remédios antiquados que são em sua maioria estratégias de comunicação e não uma mudança real. Tenho certeza de que um dia a Igreja católica fará reformas positivas, mas apenas fará isto sob coação, quando será obrigada pelas sociedades civis. Não acredito que o Vaticano e os bispos percebem o perigo que a Igreja católica enfrenta hoje em dia em muitos países.


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