Carlos Ghosn, preso em Tóquio por suposta fraude financeira, falou pela primeira vez nesta quarta-feira à imprensa, atacando abertamente os executivos da Nissan, empresa que ele acusa de "conspiração e traição".
Esta é a primeira entrevista que ele concede na prisão de Tóquio, onde está detido desde 19 de novembro. A entrevista foi publicada no site do jornal japonês Nikkei.
Em 11 de janeiro, o tribunal autorizou visitas que não as de seus advogados e funcionários consulares da França, do Líbano e do Brasil, os três países dos quais é cidadão.
Carlos Ghosn insistiu: os executivos da Nissan quiseram fazê-lo pagar por causa de seu projeto de integrar a Renault, a Nissan e a Mitsubishi Motors, discutido com o chefe da Nissan, Hiroto Saikawa, em setembro de 2018.
A esse respeito, o empresário de 64 anos afirmou que "não tem dúvidas" de que as acusações contra ele, negadas categoricamente, são o resultado de "conspiração e traição".
A Nissan reagiu imediatamente, lembrando que Saikawa "já refutou categoricamente a noção de 'golpe de Estado'".
A investigação conduzida em segredo pelo grupo desde o verão de 2018 "revelou evidências significativas e convincentes de desfalque", acrescentou a montadora japonesa em um comunicado enviado à AFP.
- "Realidade distorcida" -
No decorrer da entrevista, o ex-magnata do automóvel varreu as acusações que descrevem seu governo de 19 anos como "uma ditadura". "As pessoas traduzem liderança forte por ditador, distorcendo a realidade para se livrar de mim", disse ele.
Carlos Ghosn foi acusado pela Justiça de cometer abuso de confiança e de omitir parte de sua renda entre 2010 e 2018.
Em 8 de janeiro, em seu único comparecimento diante de um tribunal, Ghosn rejeitou as acusações, afirmando ter sido injustamente acusado.
Seus advogados apresentaram vários pedidos de liberdade sob fiança, sem sucesso, com a Justiça justificando um risco de ocultação ou destruição de provas e fuga.
"Eu não vou escapar, vou me defender", disse ele nesta quarta. "Todas as provas estão na Nissan, e a Nissan proíbe que os funcionários falem comigo".
Perguntado sobre sua vida no centro de detenção, o ex-CEO da aliança Renault-Nissan disse que "vai bem".
De acordo com sua equipe de defesa, ele pode permanecer na prisão até o julgamento, que levará meses. Ele enfrenta até 15 anos de prisão.
- "Não sou advogado" -
Em relação às acusações de abuso de confiança, Ghosn afirmou que o pagamento de 15 milhões de euros a um bilionário saudita, Khalid Juffali, de um "fundo de reserva do CEO", tinha sido aprovado "pelo chefe da região" e outros executivos.
O mesmo vale para a compra de residências de luxo no Rio de Janeiro e em Beirute, que teria sido validada pelo departamento jurídico da Nissan.
O detento esclarece que "precisava de um lugar seguro onde pudesse trabalhar e receber as pessoas no Brasil e no Líbano".
A Nissan também acusa seu ex-chefe de ter recebido uma remuneração total de 7,82 milhões de euros da subsidiária holandesa Nissan-Mitsubishi B.V. (NMBV). Aqui também, ele defende "uma distorção da realidade".
"Fiz algo errado? Não sou advogado", destacou.
Ghosn perdeu todos os seus títulos desde a sua prisão, que mergulhou a aliança na tormenta. Ele foi demitido da presidência dos conselhos de administração da Nissan e Mitsubishi Motors no final de novembro, e renunciou na semana passada a da Renault.
.