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Estado de Minas

Desilusão afasta manifestantes dos 'coletes amarelos' na França


postado em 16/01/2019 15:43

Desiludidos ou frustrados, alguns "coletes amarelos" se afastaram do movimento popular contra o governo, que sacode a França há dois meses, às vezes sob insultos e ameaças.

"O modo de ação já não me convence", explica à AFP Fabrice Schlegel, antigo "colete amarelo" de 45 anos, que trabalha como corretor imobiliário no departamento de Jura, no leste da França.

Este pai de três filhos disse "adeus" em dezembro a esse movimento de revolta social que protesta, principalmente, contra a política social e fiscal do governo de Emmanuel Macron, com uma mensagem no Facebook.

"Me equivoquei sobre a guinada que o movimento deu, sobre os valores que queria passar, respeito, solidariedade, tolerância". "Hoje estamos mais para o ódio, a falta de respeito e divisão", escreveu na rede social.

Schlegel seguiu administrando o grupo no Facebook de 33 mil membros que servia para organizar ações, como piquetes em estradas de sua região, mas parou de protestar.

"Já estive em todas as rotatórias", afirma. Para ele, "a aventura" chegou ao fim por causa de "uma falta de estratégia evidente".

"Nunca conseguimos nos estruturar", lamenta, "era impossível". "Falamos de política durante um mês, nas rotatórias, mas a palavra 'política' era um tabu", assinala.

Este homem, que perdeu as eleições departamentais de 2015 às quais se apresentou como candidato da direita liberal, foi rapidamente pego como alvo dos "coletes amarelos", que o acusaram de ter ambições políticas.

Os insultos não paravam de surgir. "Recebi cartas anônimas, ameaças de morte", afirma.

Orgulhoso das ações realizadas, agora diz que acompanhará de longe o grande debate nacional que o presidente Emmanuel Macron lançou esta semana para superar a crise, mas sem muitas esperanças. "Veremos uma luz com esse diálogo? Duvido", suspira.

- 'Falta de unidade' -

Não muito longe dali, em Colmar, perto da fronteira com a Alemanha, Jean guardou o seu colete amarelo em dezembro. Este aposentado de 69 anos se uniu ao movimento de protesto popular ao se reconhecer nas reivindicações sobre "o preço da gasolina e o poder aquisitivo", conta.

Mas a "recuperação política", a "infiltração dos sindicatos" e a "violência" durante as manifestações em Paris o levaram a sair.

Jean lamenta "a falta de unidade" no seio deste movimento cidadão que, segundo ele, "perdeu o seu espírito de camaradagem e a sua espontaneidade".

Franck, de 53 anos, alimentava três grupos no Facebook dos "coletes amarelos" em Estrasburgo (leste). "Às vezes passava 12 horas por dia", conta à AFP. Mas a realidade econômica alcançou este vendedor independente: "tinha que voltar a trabalhar ou meu negócio estaria condenado".

Na localidade de Vesoul, perto da fronteira com a Suíça, Céline Roy, de 22 anos, que atuou como uma das porta-vozes do movimento durante semanas, decidiu deixá-lo após ser condenada a dois meses de prisão, com suspensão da pena, por ter bloqueado um trem.

Após sair dos tribunais, em 11 de dezembro, anunciou que "não voltaria a colocar os pés em uma rotatória". "Protestava das oito (horas) da manhã até às sete da noite (...) Parei até de trabalhar", conta esta ex-vendedora e mãe de família.

Apesar de ter conhecido pessoas "incríveis", a desilusão que sente é grande. "As pessoas não entendiam o porquê parei de protestar, corria o risco de me ver novamente em um tribunal", afirma. "Me criticaram muito".

"Dei uma entrevista na qual contei que me ofereceram um cargo político. Nas redes sociais me chamavam de corrupta", diz esta mulher, afirmando ter recebido muitas ameaças.

"Achava que com o diálogo as coisas avançariam... Mas agora estão rompendo tudo. E depois teremos que pagar por tudo isso. Está claro que não via as coisas assim".


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