Os defensores de uma maior regulação das armas de fogo nos Estados Unidos asseguram: o ano de 2018 marca um ponto de inflexão em sua luta, com a adoção de regras restritivas em muitos estados, inclusive na emblemática Flórida.
Embora reste muito a ser feito, estes ativistas também celebram a eleição em novembro de vários parlamentares e governadores favoráveis a sua causa.
"Em 2018 mudamos o rumo", declarou Shannon Watts, fundadora da organização Moms Demand Action ("Mães pedem ação", em tradução livre), em um artigo de opinião publicado pelo Huffington Post.
Este ano, o movimento pela segurança com relação às armas de fogo "experimentou um movimento tectônico", indicou a organização Giffords, fundada por uma parlamentar que sobreviveu a um tiroteio, em alusão a 67 novas leis restritivas adotadas em 27 estados, tanto republicanos como democratas.
Algumas regras elevam a idade legal para a compra de armas de fogo, outras reforçam o controle dos antecedentes dos compradores. Em outros locais permitem a apreensão das armas de protagonistas de violência doméstica e de pessoas assinaladas como perigosas.
Alguns estados, contudo, aprovaram leis na direção oposta, que incluem permitir o porte de armas em escolas ou lugares de culto (Dakota do Sul), mas "o lobby das armas conseguiu impor menos textos em 2018 do que nos anos anteriores", segundo o grupo Giffords.
A nível federal, por sua vez, apenas uma medida foi adotada: a administração proibiu os "bump stocks", dispositivos que permitem disparar rajadas. E não existe intenção alguma de modificar as medidas relacionadas aos fuzis de assalto.
- Flórida também -
Nos Estados Unidos, o porte de armas é um direito garantido pela Constituição, e 30% dos adultos dizem possuir ao menos uma arma de fogo.
A Segunda Emenda à Constituição, que encontra sua origem na história conquistadora dos pioneiros da Europa, não se discute. Mas 57% dos americanos exigem atualmente regras mais estritas para minimizar a quantidade de mortes e feridos por armas. Há um ano, eram 52%.
As armas de fogo causaram mais de 36 mil mortes em 2018. O massacre em uma escola de Ensino Médio em Parkland, na Flórida, no qual morreram 17 pessoas em 14 de fevereiro, causou um choque na sociedade: um milhão e meio de americanos tomaram as ruas para exigir controle das armas, e a súplica de adolescentes traumatizados correu todo o país.
Diante destas pressões, inclusive da Flórida, conhecida por sua flexibilidade na venda de armas, tímidas reformas começaram a ser implementadas. O republicano Rick Scott, então governador, assinou em março uma lei que fixa em 21 anos a idade legal para comprar uma arma de fogo, e impõe um período de três dias entre a compra de uma arma e a sua entrega.
Scott, que foi eleito para o Senado dos Estados Unidos em novembro, não contou com o apoio do poderoso lobby pró-armas, a Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), como em votações anteriores.
- Disputa eleitoral -
Durante anos, este lobby investiu milhões de dólares em campanhas eleitorais para assegurar a vitória de seus candidatos, que, uma vez no Congresso, impediam qualquer tentativa de regulação.
Mas outro feito notável deste ano é que as organizações que buscam regular as armas gastaram mais que a NRA.
O poderoso lobby gastou 10 milhões de dólares nas eleições de meio de mandato, contra os 27 milhões de dólares em 2014, segundo seu site.
De forma inversa, o ex-prefeito de Nova York e bilionário Michael Bloomberg deu apoio à causa com fundos de campanha por meio de sua organização "Everytown for gun safety". E o investimento deu frutos: 83% dos 66 candidatos que apoiou, venceram.
As vitórias notórias incluem Lucy McBath, cujo filho morreu após ser atingido por disparos em um posto de gasolina em 2012.
Em 3 de janeiro, os candidatos vitoriosos entrarão no Congresso. Os democratas, que recuperaram o controle da Câmara de Representantes, prometeram apresentar nos primeiros 100 dias um projeto de lei para fortalecer a verificação de antecedentes dos compradores de armas.
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