O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta quarta-feira (12) que vai lançar uma operação militar contra as milícias curdas nos "próximos dias" na Síria, o que poderia prejudicar as relações entre Ancara e Washington, que apoia grupos curdos.
Seria a terceira operação militar realizada pelo Exército turco no norte da Síria, onde já interveio em 2016 e no início de 2018 para impedir o avanço para a fronteira dos grupos jihadistas do Estado Islâmico e os combatentes curdos das Unidades de Proteção Popular (YPG).
Essa milícia curda, considerada a espinha dorsal das Forças Democráticas da Síria (SDF), uma coalizão árabe curda com o apoio dos Estados Unidos, é considerada "terrorista" pela Turquia, que teme a criação de um Estado curdo em sua fronteira.
"Nossa operação para salvar o leste do Eufrates da organização terrorista separatista começará nos próximos dias", disse o chefe do Estado turco durante um discurso em que se referiu a áreas controladas por milícias curdas no norte da Síria.
A YPG alertou nesta quarta que uma ofensiva turca prejudicará a batalha que travam contra o grupo Estado Islâmico.
"As ameaças [turcas] coincidem com o avanço das nossas forças contra os terroristas, desta vez com a entrada na cidade de Hayin", declarou o porta-voz das YPG, Nuri Mahmud. "Indubitavelmente, qualquer ataque ao norte da Síria terá um impacto direto na batalha de Hayin. As forças que combatem regressarão para defender suas áreas e suas famílias".
"Instamos a comunidade internacional, com a liderança das Nações Unidas, assim como a coalizão internacional [antijihadistas] que se posicionem contra os projetos agressivos de Erdogan", alertou em comunicado o conselho executivo da administração semiautônoma.
Erdogan já havia declarado em 30 de outubro que a Turquia estava pronta para uma ofensiva desse tipo.
O presidente turco critica regularmente o apoio de Washington ao YPG, eixo das SDF, que os Estados Unidos apoiam na luta contra o Estado Islâmico (EI).
"Nosso objetivo não são os soldados americanos, mas os membros da organização terrorista ativa na região", disse Erdogan.
Ancara considera o YPG como o braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo confrontado com o exército turco desde 1984 e que é considerado um "terrorista" pela Turquia, mas também pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
- "Proteger os terroristas" -
Embora Erdogan não tenha dado detalhes do escopo da operação, Yussef Hammud, porta-voz do Al Jaish Al Watani, uma coalizão de rebeldes sírios relacionados à Turquia, explicou que "todas as regiões serão afetadas, de Manbij a Tal Abyad, sem exceção" nos dois lados do Eufrates.
"As facções de Jaish Al Watani vieram à tona há algum tempo", explicou Hammud, acrescentando que houve treinamentos supervisionados por autoridades turcas.
As declarações de Erdogan vêm no dia seguinte a Washington ter instalado postos de observação para evitar confrontos entre o exército turco e o YPG, apesar da oposição de Ancara.
Um porta-voz do Pentágono declarou nesta terça-feira que os postos de observação foram instalados "na região fronteiriça no nordeste da Síria para responder às preocupações da Turquia em matéria de segurança".
"É evidente que O objetivo dos radares e dos postos de observação instalados por Estados Unidos não é proteger nosso país dos terroristas, mas proteger os terroristas da Turquia", criticou Erdogan.
Ancara realizou ataques esporádicos contra o YPG no norte da Síria em outubro, forçando a milícia curda a interromper suas operações contra o EI por dez dias.
A situação na região de Manbij, no norte da Síria, é uma das principais razões para o desacordo entre os Estados Unidos e a Turquia, pois está sob o controle da YPG e conta com a presença de soldados dos EUA.
Washington e Ancara concordaram em maio com um roteiro em que previam a retirada das forças curdas da região e a criação de patrulhas formadas em conjunto por soldados americanos e turcos.
Mas Ancara insiste em repetir que a retirada ainda não ocorreu e ameaça com uma ofensiva militar em Manbij.