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Estado de Minas

João de Deus alega inocência de acusações de abuso sexual


postado em 12/12/2018 19:23

O médium João de Deus, um conhecido curandeiro espiritual, denunciado por agressões sexuais contra quase 500 mulheres, alegou inocência ao se apresentar aos seus fiéis em Abadiânia (GO) nesta quarta-feira (11) pela primeira vez desde que surgiu o escândalo.

"Eu não tenho culpa!", exclamou o médium de baixa estatura, cara bondosa e olhar penetrante, diante de centenas de pessoas que manifestaram seu apoio com gritos, aplausos e lágrimas, comprovou a AFP.

João Teixeira de Faria, de 76 anos, chegou após as 09H00 em um modesto carro branco à cidade goiana, localizada a 100 km de Brasília, onde celebra semanalmente seu culto, em duas sessões diárias de quarta a sexta-feira.

Ele chegou protegido por seus colaboradores, abrindo caminho ao enxame de câmeras que o seguiram até a sala de oração da Casa Don Ignacio de Loyola.

Ele subiu em um palanque, discursou algumas breves palavras e voltou a sair.

"Ele está abalado, não pode falar e não pode incorporar. Para fazer o trabalho espiritual tem que estar relaxado", explicou à AFP Claudio José Pruja, voluntário há 21 anos neste lar de peregrinação, fundado em 1976.

Centenas de mulheres acusam o médium de ter abusado sexualmente delas com o pretexto de curá-las de doenças que vão da depressão ao câncer, com suas "cirurgias sem corte". As denúncias remontam a 2010.

O escândalo veio à tona na sexta-feira quando a TV Globo e o jornal O Globo reportaram dez casos, entre eles o da coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, que contou ter sido estuprada pelo curandeiro. Outras declararam, sob condição de anonimato, que foram obrigadas a masturbá-lo ou praticar sexo oral nele, em sessões de cura espiritual.

A Justiça do estado de São Paulo recebeu denúncias de 252 mulheres e a de Goiás, de 206. Entre estas últimas, uma é residente nos Estados Unidos e outra na Suíça.

A assessora de comunicação do curandeiro, Edna Gomes, disse nesta quarta que ele "está sereno, ele está aberto para que a Justiça apure as denúncias".

- "Nem uma prova" -

Sua inocência não desperta dúvidas entre os fiéis que o aguardavam em frente à Casa Don Ignacio de Loyola, que recebe gratuitamente e sem reserva prévia pessoas de todas as religiões e se mantém com doações privadas.

José Carlos, um contador de 63 anos, veio de São Paulo em busca de cura para sua mulher, com um tumor cerebral, e sua filha, em tratamento psiquiátrico.

"Até agora não vi nem uma prova contra ele. Deveriam falar das curas que ele fez", lamenta.

"Acho que as acusações são falsas. Conheço muitas mulheres brasileiras e estrangeiras (...) que estiveram em particular com João de Deus muitas vezes, e inclusive mulheres muito bonitas, e nunca tiveram problemas com ele", garante Duncan Ryan, um americano de 66 anos que teve câncer de pele.

A Casa ocupa um amplo espaço com várias paredes brancas e azuis e jardins floridos, que dão para uma grande varanda de meditação, com vista para a vegetação do cerrado.

Várias salas de oração e outras dependências para banhos de luz e sessões energéticas, um refeitório, um bar e uma livraria completam o espaço. Tudo deve ser realizado em silêncio.

A fama do curandeiro ultrapassou fronteiras. Em 2012, ele recebeu a visita da apresentadora de TV americana Oprah Winfrey.

Os três últimos presidentes do Brasil também o visitaram: Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), quando tiveram câncer, e o atual presidente, Michel Temer, antes de uma cirurgia na próstata.

- "Turismo espiritual" -

Este escândalo desatou a preocupação entre os moradores de Abadiânia, uma pequena e aprazível cidade de 17.000 habitantes transformada graças ao curandeiro em um concorrido destino de "turismo espiritual", com milhares de visitantes por mês que geram centenas de empregos indiretos.

Por suas ruas, com casas coloridas de um ou dois andares, perambulavam nesta ensolarada quarta-feira fiéis, muitos europeus e americanos, que se alojam nas cercas de 50 pousadas que floresceram com os anos.

Há também restaurantes, lojas (de roupas brancas, com estampas religiosas, de pedras energéticas) e pequenas agências que oferecem excursões para as cachoeiras dos entorno.

"Ainda não sentimos o impacto. Talvez na semana que vem", teme Luis Paranhos, 53 anos, proprietário do restaurante Delícias da Casa, a poucos metros da casa de cura.

Paranhos, cuja propriedade é decorada com uma imagem de Ignacio de Loyola e um triângulo de energia, recebe diariamente 200 "turistas espirituais".

"Queremos que ele pague pelos erros, se tiver, mas pedimos ao Ministério Público que não feche a Casa. É um templo de oração, de paz", declarou.


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