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Estado de Minas

Prêmios Nobel da paz fazem apelo pelas vítimas da violência sexual


postado em 10/12/2018 18:16

Ao receberem o Prêmio Nobel da Paz nesta segunda-feira (10), o congolês Denis Mukwege e a yazidi Nadia Murad pediram o fim da indiferença e a proteção às vítimas de violência sexual, frequentemente relegadas, segundo eles, por considerações econômicas.

O ginecologista de 63 anos e a iraquiana de 25, uma ex-escrava do Estado Islâmico (EI) que se tornou porta-voz da minoria a que pertence, receberam o prêmio das mãos da presidente do Comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, que elogiou "duas das vozes mais poderosas do mundo atualmente" contra a opressão das mulheres.

Durante uma cerimônia pontuada por ovações, lágrimas e gritos, no Hotel da Cidade de Oslo, os dois premiados se dirigiram à comunidade internacional e pediram o fim da impunidade para os autores de violência sexual em tempos de guerra.

"Não são apenas os autores de violência que são responsáveis por seus crimes, mas também os que escolhem fechar os olhos", afirmou Denis Mukwege em seu discurso de agradecimento.

"Se for preciso fazer a guerra, façamos a guerra contra a indiferença que corrói nossas sociedades", completou.

Conhecido como o "homem que conserta as mulheres", o ginecologista trata há duas décadas das vítimas de violência sexual em seu hospital em Panzi, no leste da República Democrática do Congo(RDC), região atingida por uma violência crônica.

Em seu discurso com acentos políticos, este crítico do regime do presidente Joseph Kabila disse ter visto "as consequências dolorosas da má governança".

"Bebês, meninas, jovens mulheres, mães, avós e também homens e meninos, cruelmente violentados, muitas vezes em público e em grupos, inserindo plástico em chamas, ou introduzindo objetos contundentes, em seus genitais", relatou.

- Sequestrada e torturada -

Já Nadia Murad pediu à comunidade internacional que proteja seu povo e trabalhe pela libertação de milhares de mulheres e crianças que continuam nas mãos dos extremistas.

"Se a comunidade internacional deseja realmente ajudar as vítimas desse genocídio (...) deve lhes garantir uma proteção internacional", declarou esta jovem de 25 anos em seu discurso de agradecimento, pronunciado em curdo na prefeitura de Oslo, no qual considerou inaceitável que o mundo não faça mais para libertar os mais de 3.000 yazidis que o EI ainda mantém em seu poder.

Assim como milhares de mulheres yazidis, Nadia Murad foi sequestrada, violentada e torturada pelos extremistas após a ofensiva do EI contra esta comunidade do norte do Iraque, em 2014.

Nadia conseguiu fugir de seus sequestradores e, hoje, luta pelas mulheres e crianças - mais de três mil, segundo ela - ainda mantidos em cativeiro.

"É inconcebível que a consciência dos dirigentes de 195 países não tenha se mobilizado para libertar essas mulheres", frisou.

"Se tivesse se tratado de um acordo comercial, de uma jazida de petróleo, ou de um carregamento de armas, aposto que não se teria poupado esforços para liberá-las", afirmou.

- 'Oligarquia predadora' -

Mukwege também lamentou que o destino da população congolesa esteja em segundo plano, atrás da exploração selvagem das matérias-primas.

"Meu país é sistematicamente saqueado com a cumplicidade de pessoas que afirmam ser nossos líderes", disse ele.

"Saqueado às custas de milhões de homens, mulheres e crianças inocentes abandonados em extrema miséria, enquanto os lucros de nossos minerais acabam nos bolsos de uma oligarquia predatória", criticou.

Mukwege, de terno escuro, e Nadia, que usava um vestido azul e preto, pediram uma resposta da comunidade internacional.

Para o médico, os Estados devem acabar com a impunidade "de líderes que toleraram, ou pior, usaram de violência sexual para obter poder", apoiar a criação de um Fundo Global de Compensação para Vítimas de Violência Sexual e tirar da gaveta um relatório da ONU, mapeando crimes de guerra e violações de direitos na RDC.

Sob o olhar da advogada anglo-libanesa e ativista de direitos humanos Amal Clooney, que se juntou à sua causa, Nadia Murad implorou ao mundo por proteção para seu povo.

"A proteção dos yazidis (...) é responsabilidade da comunidade mundial e das instituições internacionais", disse ela.

"Sem essa proteção internacional, não há garantia de que não seremos mais expostos a novos massacres de outros grupos terroristas", insistiu.

Embora 4.300 yazidis tenham fugido ou sido 'comprados' do EI, ainda estão 'desaparecidos' 2.500, segundo a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH).

O prêmio consiste em uma medalha de ouro, um diploma e 9 milhões de coroas suecas (871.000 euros).

Os dois contemplados encarnam a luta contra um flagelo mundial que vai muito além dos conflitos, como demonstrou o movimento #MeToo.

Nesta segunda também foram entregues, em Estocolmo, os Prêmios Nobel no restante das disciplinas, salvo o de Literatura, adiado para 2019 devido - paradoxalmente - a um escândalo de estupro que abalou a Academia Sueca.

O rei da Suécia, Carl Gustav XVI, também recebeu os premiados na Prefeitura da capital sueca, onde vão participar de um banquete, exibido ao vivo pela TV pública.


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