Jornal Estado de Minas

Transição para economia verde avança com lentidão ante aquecimento global

Três anos depois da assinatura do Acordo de Paris, o setor econômico multiplicou seus esforços para conter as mudanças climáticas, mas em um ritmo lento demais para se alcançar a meta de um aquecimento limitado a 2ºC.

- OS AVANÇOS -

- O auge das energias renováveis -

Em 2017, foi instalada uma capacidade recorde de 178 gigawatts (GW), sobretudo de energia solar e eólica. Mas este ritmo é insuficiente para dar conta do aumento do consumo mundial, segundo especialistas da rede REN21.

As energias ecológicas - com exceção da biomassa tradicional - ainda ocupam um lugar modesto nos transportes e na produção de calor, setores que consomem enormemente energias fósseis.

- Precificando o carbono -

Quarenta e seis países e 26 províncias aplicam atualmente uma tarifa sobre o carbono, seja mediante uma taxa, um intercâmbio de cotas... Esta prática gerou em 2017 uns 32 bilhões de dólares contra US$ 22 bilhões em 2016, segundo o 'think tank' I4CE. Estas iniciativas cobrem cerca de 15% das emissões mundiais.

Mas ainda estamos muito longe dos 30 euros a tonelada de CO2, considerado o nível mínimo para se ter um impacto dissuasivo e gerar benefícios para o clima, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

- Pressão sobre as empresas -

Cada vez mais investidores (bancos, seguros, fundos...) exigem das empresas uma estratégia de adaptação ao aquecimento global e se recusam a financiar projetos nocivos para o clima. Um grupo de investidores elaborou, inclusive, uma lista de empresas para acompanhá-las de perto, especialmente no setor energético, de transportes, siderurgia e minas (iniciativa da Climate Action 100+).

- Cerco ao carro tradicional -

O governo espanhol anunciou a intenção de proibir a venta de carros a diesel e gasolina em 2040, uma meta similar à de França e Holanda. Tóquio, Seul e Roterdã se somaram a Paris, Londres, Barcelona, México... em seu compromisso para que 100% de sua frota de ônibus representem zero emissões em 2025.

A UE decidiu impor um corte de 35% nas emissões de CO2 para os carros novos em 2030 com relação a 2021, uma medida considerada insuficiente pelos defensores do clima.

Já o governo do presidente americano, Donald Trump, flexibilizou as normas antipoluição dos carros. E a tendência do mercado é mais inclinada aos automóveis SUV (4x4 urbanos), grandes consumidores de combustível.

- OS MOTIVOS DE PREOCUPAÇÃO -

- Emissões em alta -

Depois de três anos de relativa estabilidade, as emissões de CO2 do setor energético voltaram a aumentar em 2017 e o mesmo vai ocorrer em 2018.

As emissões de gases de efeito estufa atingiram um nível histórico no ano passado, de 53,5 gigatoneladas (Gt) equivalentes de CO2 e "nada indica que se tenha alcançado" o teto, segundo a ONU. Para limitar o aquecimento global a 2ºC, o máximo deveria ser de 40 Gt em 2030 e a 1,5ºC, de 24 Gt.

- Disparo do metano -

Após um crescimento mais lento entre 2000 e 2006, a concentração de metano na atmosfera aumentou dez vezes mais rápido na década seguinte. Resultante, sobretudo, da agropecuária e da queima de combustíveis fósseis, este gás responde em 20% pelas mudanças climáticas. Treze dos maiores grupos de petróleo e gás, como Total, Chevron, BP e Saudi Aramco se comprometeram em reduzir coletivamente suas emissões totais de metano em até 350.000 toneladas anuais até 2025.

- Carbono em excesso -

O consumo de carbono crescerá novamente até 2022 (+0,5% ao ano), segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), e se mantém como a primeira fonte de produção de eletricidade no mundo.

Embora sua diminuição se confirme na Europa, em muitos países asiáticos e em particular na Índia, espera-se um forte crescimento, devido à sua grande demanda.

Em 2017, os investimentos em novos projetos de centrais recuaram, mas continuavam representando uma capacidade de 2.000 GW.

No começo do ano, mais de 700 GW estavam em construção ou em sua etapa prévia, segundo estudo de várias ONGs, entre elas o Greenpeace.

- Captura de carbono incipiente -

Considerada uma das soluções mais eficazes para reduzir as emissões de CO2 das usinas de carvão e das plantas industriais (fábricas de cimento, siderúrgicas, etc), a captura e o armazenamento de carbono continua limitada (uns 300 milhões de toneladas foram recuperados no ano passado, segundo a AIE). Trata-se de uma tecnologia onerosa e, portanto, não rentável na ausência de um preço do carbono suficiente.

- Desmatamento -

Em 2017, a perda da superfície florestal no mundo alcançou 15,8 milhões de hectares, isto é, a superfície de Bangladesh ou o equivalente a 40 campos de futebol desaparecendo a cada minuto, segundo o Global Forest Watch. Isto se deve à agricultura, ao corte de árvores para exploração da madeira e à atividade de mineração, mas também devido a furacões e incêndios reforçados pelas mudanças climáticas.

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