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Estado de Minas

Ghazi Saleh, o rosto da fome no Iêmen


postado em 21/11/2018 15:10

Pele e ossos. Ghazi Saleh, que tem 10 anos e pesa apenas oito quilos, respira com dificuldade em um leito de hospital em Taez, uma cidade do sudoeste do Iêmen.

Faminto e muito fraco para se mexer, e até mesmo para chorar, o pequeno luta para se manter de olhos abertos.

No hospital Al-Mudhafar, onde Ghazi está internado, o pessoal médico vai de uma cama à outra para examinar os recém-nascidos e as crianças que sofrem de desnutrição como ele.

Alguns médicos os pesam, outros tentam alimentá-los por via intravenosa. Seus corpos estão muito enfraquecidos para comer.

É o caso de Ghazi, que "não come bem há um tempo", diz a enfermeira Emane Ali à AFP.

No Iêmen, mais de 14 milhões de pessoas estão à beira da fome extrema, segundo a ONU. Metade delas são crianças, informa o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Cerca de 85.000 crianças teriam morrido de fome, ou de doenças, entre abril de 2015 e outubro de 2018, segundo estimativa publicada hoje pela ONG Save The Children. Outros morreram nos combates que castigam esse país pobre da península arábica.

"Para cada criança morta por bombas, ou disparos, dezenas morrem de fome, e isso pode ser evitado", lamentou o diretor da Save The Children para o Iêmen, Tamer Kirolos, no comunicado.

- "Piorando" -

Enquanto a ONU tenta reativar as negociações de paz na Suécia, antes do fim do ano, a situação no terreno é catastrófica para milhões de crianças.

"Recebemos casos (parecidos com o de Ghazi) todos os dias. Alguns deles estão em situação extrema", explica à AFP Sona Othman, responsável pelo serviço que trata das crianças desnutridas no hospital Al-Mudhafar.

"O caso de Ghazi reflete a deterioração da situação sanitária do país", explica.

Fatima Salman, cujo filho sofre de desnutrição, sente-se cada vez mais desesperada, à medida que a guerra vai-se arrastando.

"Meu marido tinha um trabalho antes da guerra. Ganhava o suficiente para nos alimentar, mas agora não tem nada", conta à AFP.

"Queremos que esta guerra acabe, mas vemos que está piorando", completou.

Mais de 75% dos 22 milhões de habitantes do Iêmen dependem da ajuda humanitária para sobreviver.

Os iemenitas também se veem abalados pela queda da economia do país, onde funcionários públicos e professores não recebem seu salário há meses.

- Crianças em perigo -

O Unicef estima que cerca de 4,5 milhões de crianças no Iêmen possam ficar sem ir à escola, já os professores das instituições públicas não recebem há quase dois anos.

Mais de 2.500 escolas foram danificadas, ou destruídas durante o conflito. Outros centros se transformaram em abrigos para pessoas deslocadas, ou em base de operações para os combatentes.

Desnutridos e sem escolarização, as crianças iemenitas também têm de enfrentar outros perigos.

Mais de 40% das meninas são obrigadas a se casarem antes dos 15 anos, e quase 75%, antes dos 18, segundo o Unicef.

Já os garotos correm o risco de serem recrutados como meninos-soldado.

A guerra entre o governo do Iêmen - apoiado por uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita - e os rebeldes huthis - que contam com o apoio do Irã - deixou mais de 10.000 mortos desde 2015, e mergulhou o país na pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.


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