Muito dependente do fornecimento de energia e de bens de consumo do Irã, o Iraque conseguiu mais tempo dos Estados Unidos para evitar o desabastecimento, ou um apagão, após a entrada em vigor das sanções de Washington contra a República Islâmica.
Bagdá obteve 45 dias adicionais, segundo uma autoridade que pediu anonimato, para apresentar a Washington "um plano que explique como deixará de recorrer, progressivamente, ao petróleo e ao gás iranianos".
Por ora, sem os hidrocarbonetos de seu vizinho, o Iraque, que sofre com apagões crônicos, não pode fazer todas as suas turbinas funcionarem. É possível alcançar o autoabastecimento, mas não em menos de "quatro anos", afirmou à AFP a autoridade.
Nas últimas semanas, vários ministros, entre eles o das Finanças e o de Energia, reuniram-se com autoridades iranianas, enquanto representantes do Tesouro americano e da Casa Branca discutiram com autoridades iraquianas.
O objetivo do Iraque, cuja indústria sofreu com um embargo durante os anos 1990 e com os conflitos sucessivos, é conservar os vínculos comerciais com seu vizinho.
É necessário, disse o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi em coletiva de imprensa, "preservar os interesses nacionais falando com todos".
Bagdá não quer, disse, "entrar em um conflito do qual não faz parte".
O Iraque, que compra 1.300 megawatts de eletricidade do Irã, aceitou rascunhar um plano de "isenção" para os americanos, explicou à AFP Nussaiba Yunes, pesquisadora do European Institute of Peace.
Este plano pretende, explicou ela, "reduzir a dependência do combustível e da eletricidade iraniana".
Nesta quarta, Brian Hook, enviado especial dos Estados Unidos para o Irã, anunciou que, por enquanto, o "Iraque tem uma revogação", ou pode "continuar pagando pela importação de eletricidade do Irã".
Mas o Iraque, segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), já lançou vários sinais para agradar a Washington e alcançar sua independência energética.
Entre as medidas, está a assinatura no começo de 2018 de um protocolo de acordo com a companhia americana Orion Gas Processors para extrair gás da jazida de Ben Omar (sul).
- 'Iraque precisa de nós' -
A empresa Orien não é a única. "Várias empresas americanas querem participar, como a General Electrics", que assinou em outubro um memorando de acordo com o Iraque, disse à AFP a autoridade, que pediu anonimato.
Por um lado, o Iraque se compromete com os Estados Unidos. Por outro, acalma Teerã.
Para agradar a Washington, Bagdá continuará comprando do Irã, mas "em dinar iraquiano, e não em dólares", acrescenta.
Para agradar a Teerã, indica Yunes, "fechará seus olhos" em seu território para as "atividades iranianas informais, com as quais busca escapar às sanções". O Irã buscará, garantiu à AFP, "obter divisas através do Iraque e em operações de contrabando".
Além dos hidrocarbonetos, as compras iraquianas de seu vizinho somaram, em 2017, cerca de 6,5 bilhões de dólares em uma ampla gama de bens de consumo - como tomates, ventiladores, cobertores e carros.
Esta semana, após uma reunião com o ministro de Energia iraquiana, o embaixador iraniano em Bagdá, Araj Masjadi, garantiu que o Irã "precisa do Iraque, como o Iraque precisa do Irã".