A França ou uma Nova Caledônia independente? Os habitantes desta ex-colônia francesa do Pacífico decidem o seu futuro no domingo (4) em um histórico referendo de independência em que o "Não" parece favorito, segundo as pesquisas.
Os 175.000 eleitores habitantes deste arquipélago do Pacífico localizado 1.500 quilômetros a leste da Austrália, irá responder com um "Sim" ou "Não" à pergunta sobre se querem que a "Nova Caledônia alcance a plena soberania e seja independente".
De acordo com as pesquisas, o "Não" é a opção favorita e ganharia com entre 63% e 75% dos votos.
O referendo de domingo representa o culminar de 30 anos de descolonização da Nova Caledônia, onde a França se estabeleceu em 1853 e dispõe de uma das maiores reservas de níquel do mundo.
"A França quer que o "Não" vença, assim como a Austrália e a Nova Zelândia, que veem (na Nova Caledônia) a garantia da presença europeia na região. O expansionismo chinês os preocupa", aponta Patrice Jean, professor universitário na capital Nouméa, em entrevista ao jornal "La Gazette des Communes".
O presidente francês, Emmanuel Macron, mantém oficialmente uma posição neutra e não quis "tomar partido" durante a campanha do referendo.
No entanto, Macron assegurou que "a França seria menos bonita sem a Nova Caledônia", durante uma visita a Nouméa em maio, declarações que refletem a natureza estratégica deste arquipélago, que as autoridades francesas não querem perder.
Macron fará uma declaração pública no domingo, após o anúncio dos resultados, às 23h00 (9h00 de Brasília).
- "Campanha muito tranquila" -
O referendo previsto após o acordo de Nouméa de 1998 também deve servir para reconciliar os indígenas canacos, que representam menos de 40% da população, e os caldoches de origem europeia.
Durante os anos 1980, houve uma sucessão de confrontos violentos na Nova Caledônia, cujo episódio mais trágico foi a tomada de reféns na ilha de Ouvea em maio de 1988, no qual 25 pessoas morreram, incluindo 19 separatistas canacos.
Por outro lado, a calma prevaleceu durante a campanha do referendo.
Enquanto as províncias do Norte e as Ilhas da Loyauté, de maioria independentista, estão cheias de bandeiras separatistas, os defensores da unidade com a França praticamente não penduraram bandeiras.
"Este é um momento histórico que todos esperavam, mas, paradoxalmente, perdeu sua intensidade", explica Pierre-Christophe Pantz, PhD em geopolítica.
"A campanha tem sido muito tranquila, o referendo não atraiu muita atenção", diz Pantz, que destaca que "os caledonianos acham que isso não mudará sua vida cotidiana".
- Grande desigualdade social -
Soumynie Mene, militante idependentista, de 38 anos, considera "uma pena que as pessoas não sintam um grande interesse em um referendo que preparamos há 30 anos" e que lhes permitiria "virar a página da colonização".
O FLNKS, principal partido pró-independência, defende que uma vitória do "Sim" não representaria uma ruptura total com a França, mas manteria uma relação privilegiada com este país.
As formações que defendem a permanência, com fortes divisões internas, lembram que Paris contribui com ajudas anuais de 1,3 bilhão de euros (cerca de 1,4 bilhão de dólares) para o arquipélago.
Apesar de trinta anos em que a autonomia da Nova Caledônia progrediu e o reconhecimento da identidade dos canacos, continuam a haver grandes desigualdades econômicas, educacionais e trabalhistas entre a população de origem europeia este povo originário.
"Ainda há problemas de integração e um sentimento de injustiça presente na sociedade", diz Paul Fizin, doutor em História.