Um canal de televisão turco exibiu nesta quarta-feira imagens que alimentam a hipótese de desaparecimento forçado ou assassinato de um jornalista saudita desaparecido há uma semana, depois de comparecer ao consulado em Istambul.
A noiva do repórter pediu a ajuda do presidente americano Donald Trump.
A emissora 24 TV exibiu imagens das câmeras de segurança que mostram o jornalista Jamal Khashoggi entrando no consulado da Arábia Saudita em Istambul, assim como da equipe suspeita de estar por trás do desaparecimento.
Khashoggi, um jornalista crítico do governo em Riad e que era colunista do jornal The Washington Post, compareceu ao consulado no dia 2 de outubro. Ele havia agendado uma consulta para trâmites administrativos.
A polícia turca afirma que o jornalista nunca deixou o local, mas Riad diz o contrário.
Nas primeiras imagens, um homem apresentado como Khashoggi entra no consulado às 13h14 locais. Nas proximidades é possível observar uma caminhonete preta.
As imagens seguintes mostram o veículo entrando no consulado. Após deixar o local às 15H08, a caminhonete seguiu, de acordo com a 24 TV, para a residência do cônsul, próxima à representação diplomática.
O diretor de redação do jornal Aksam, Murat Kelkitlioglu, disse, ao apresentar as imagens no canal de televisão, ter certeza de que o jornalista foi transportado neste veículo, vivo ou morto.
Fontes turcas ligadas à investigação em curso afirmaram no fim de semana que os primeiros elementos apontavam que Khashoggi foi assassinado no consulado. Mas alguns jornais do país mencionaram a possibilidade de um sequestro e que ele pode ter sido levado para a Arábia Saudita.
Riad negou de modo veemente um assassinato.
O jornal Washington Post afirmou, com base em uma fonte que acompanha o caso, que o serviço de inteligência americano interceptou comunicações entre dirigentes sauditas que mencionaram o sequestro, antes do desaparecimento de Khashoggi.
- "Equipe de assassinato" -
A polícia turca revelou no sábado que um grupo de 15 sauditas viajou - ida e volta - a Istambul e ao consulado no dia do desaparecimento do jornalista.
O canal 24 TV também exibiu imagens que mostram os integrantes deste grupo chegando ao aeroporto de Istambul antes de seguir para o hotel.
Eles deixaram o hotel durante a manhã, seguiram para o consulado e durante a noite deixaram a Turquia.
O jornal Sabah informou que dois aviões privados da Arábia Saudita pousaram em Istambul no mesmo dia e que os passageiros tinham quartos reservados em hotéis perto do consulado, mas não passaram a noite nestes locais.
O mesmo jornal publica nesta quarta-feira os nomes, idades e fotos dos 15 homens apresentados como a "equipe de assassinato" enviada por Riad.
O nome de uma das pessoas, Salah Muhammed Al Tubaigy, corresponde ao de um tenente-coronel do departamento de medicina forense saudita.
As autoridades turcas receberam na terça-feira autorização para uma operação no consulado saudita, mas esta ainda não aconteceu.
A noiva do jornalista pediu na terça-feira a ajuda do presidente Donald Trump para descobrir o que aconteceu com o repórter, um crítico do governo de Riad.
"A esta altura imploro ao presidente Trump e à primeira-dama Melania Trump que ajudem a revelar a verdade sobre o desaparecimento de Jamal", escreveu Hatice Cengiz em um artigo no Washington Post.
A mulher também pediu à Arábia Saudita que mostre "sensibilidade" e divulgue as gravações das câmeras de segurança do consulado.
O jornalista se exilou em 2017 nos Estados Unidos, depois de cair em desgraça com o entorno do príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman, conhecido como "MBS".
Em uma entrevista à BBC três dias antes do desaparecimento, Khashoggi afirmou que não tinha a intenção de retornar a seu país.
"Quando escuto sobre a prisão de um amigo que não fez nada para merecer isto, penso que não deveria voltar. Eu falo, este meu amigo não falou nada", disse.
Com a pressão para que o governo americano atue no caso que envolve a aliada Arábia Saudita, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Jim Mattis, afirmou que seu país "acompanha de perto a situação".
Trump se declarou "preocupado" na segunda-feira com o destino do jornalista.
Sarah Margon, da organização Human Rights Watch (HRW), lamentou a reação americana, tardia e tímida. Ela disse que Washington "dispõe de ferramentas para responder rapidamente, é uma questão de vontade política".