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Estado de Minas

Resultados das eleições antecipam crise política na Bósnia


postado em 08/10/2018 16:06

O nacionalista sérvio Milorad Dodik, na Presidência, terá que formar governo com um bósnio e um bósnio-croata, um cenário que ameaça com uma crise política um país que acordou nesta segunda-feira (8) com claras divisões após as eleições gerais de domingo.

"Sérias turbulências", "crise inédita": os dirigentes políticos expressaram seu temor inclusive antes de concluída a apuração de votos nas eleições de domingo, prevista para esta segunda.

A Bósnia Herzegovina elegeu a presidência tripartite, mas também as assembleias parlamentares de um país com instituições tão complexas que muitos consideram disfuncionais.

Estas eleições parecem representar um duro golpe às instituições criadas com os acordos de Dayton que selaram o fim do conflito intercomunitário (1992-1995), que deixou cem mil mortos e que desenharam um país dividido em duas entidades amplamente autônomas: a República Sérvia da Bósnia (Republika Srpska) e uma Federação da Bósnia Herzegovina (croata-bósnia), reunidas em um Estado central.

Segundo os resultados oficiais provisórios, as eleições levaram a um trio heterogêneo à Presidência, que deve representar os três "povos constitutivos", os bósnios (muçulmanos que somam a metade da população), os sérvios (ortodoxos que contam com um terço) e os croatas (católicos, 15% da população).

Milorad Dodik, que desdenhou sempre às instituições centrais, anunciou que só trabalharia "pelo interesse ou em proveito da Republika Srpska", que dirige desde 2006.

- 'Obstrução' -

Sua primeira ação, disse, será exigir a partida do Alto Representante da Comunidade Internacional, que se supõe que deve garantir a paz e a estabilidade, e dos membros estrangeiros da Corte Constitucional. Explicou que se asseguraria "um apoio de seus contatos diplomáticos", evocando a Rússia, aonde viajou para se reunir com o presidente Vladimir Putin durante a campanha.

Haverá "obstrução, mas a Presidência tem poderes limitados. Poderá bloquear, mas não impor decisões", disse Florian Bieber, especialista dos Bálcãs na universidade de Graz (Áustria). "Já não pode ser um solista", disse o comentarista político de Sarajevo, Ranko Mavrak.

O sérvio Dodik não representa a única forma centrífuga. A derrota de seu candidato, Dragan Covic, para a praça croata na Presidência colegiada em frente ao social-democrata Zeljko Komsic, não prejudica a determinação do primeiro partido croata (HDZ, direita nacionalista) em pedir uma entidade própria para sua comunidade.

Na federação que compartilham, bósnios e croatas se limitam em geral ao candidato de sua comunidade. Mas podem legalmente designar os dois aspirantes. Foi o que fizeram no domingo vários bósnios, que representam 70% da população da federação: votaram em Zeljko Komsic, que defende uma "cidadania bósnia" que supere as divisões.

- 'A derrota da Bósnia' -

Os bósnios "não podem legitimamente escolher os representantes croatas. É um passo atrás", denunciou Dragan Covic, para quem a vitória de Komsic "ameaça provocar uma crise inédita na Bósnia". "Os bósnios elegeram novamente para os croatas: a derrota da Bósnia Herzegovina", intitulou o jornal croata Vecernji List.

O HDZ tem cinco pontos de vantagem sobre o Partido Social-democrata de Zeljo Komsic nas eleições legislativas.

O candidato sérvio, derrotado por Milorad Dodik, o centrista Mladen Ivanic, vaticina "sérias turbulências" na federação croato-bósnia.

O copresidente bósnio, Sefik Dzaferovic (SDA, conservador), convidou todos a respeitar a Constituição.

"Quando se trata de poder, os políticos bósnios estão muito mais dispostos ao compromisso", afirma Ranko Mavrak, sem excluir que os que se enfrentam hoje amanhã vão se unir para conseguir cargos em um governo multicomunitário. Mas as negociações para formar um governo podem durar meses.


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