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Estado de Minas

Guerra no clã Fujimori revive no Peru com anulação de indulto a patriarca


postado em 04/10/2018 15:42

A anulação do indulto ao ex-presidente peruano, Alberto Fujimori, reacendeu a guerra entre seus filhos, Keiko e Kenji, que disputam seu legado político.

A Suprema Corte anulou na quarta-feira o indulto e ordenou que o ex-chefe de Estado (1990-2000) volte para a prisão depois de dez meses de liberdade, após o que deu entrada em uma clínica de Lima, onde permanece nesta quinta-feira.

Apesar de ter sido condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção, Fujimori continua desfrutando de alta popularidade no Peru por ter acabado com o terrorismo do grupo Sendero Luminoso e a hiperinflação. Esse legado é disputado por seus filhos, pois ambos querem ser presidentes.

A clínica se tornou, assim, uma espécie de grande teatro, onde os peruanos contemplam um drama shakesperiano, protagonizado por dois irmãos que choram pela anulação do indulto.

É que a luta fratricida entre Kenji (38 anos) e Keiko Fujimori (43) parece uma versão andina de "King Lear", a tragédia de William Shakespeare sobre o legado de um monarca aos seus herdeiros. Neste caso, a herança é o capital político do fujimorismo, primeira força eleitoral do Peru.

O cisma no fujimorismo foi selado em junho quando o partido que Keiko lidera - e que domina o Congresso - conseguiu tirar o assento parlamentar de Kenji, que se opôs à cruzada de sua irmã para destituir o então presidente Pedro Pablo Kuczynski, que renunciou em março.

Os dois irmãos, que poderiam se enfrentar nas eleições presidenciais de 2021, choraram após a anulação do polêmico indulto que Kuczynski concedeu ao seu pai, de 80 anos, na véspera do último Natal.

Mas um ex-advogado do ex-presidente descendente de japoneses declarou que as lágrimas de Keiko chegaram tarde, pois foram as próprias ações que ela empreendeu por ambição política que levaram à anulação do indulto.

A mesma advertência tinha sido feita por Kenji em maio, quando disse que se o indulto fosse anulado, seria por culpa do partido Força Popular, de sua irmã, que ele mesmo ajudou a fundar em 2011 e do qual se afastou em fevereiro passado.

A escalada bélica do partido de Keiko - primeiro contra Kuczynski e depois contra Kenji - "tornava irremediável derrubar o indulto", destacou o advogado César Nakazaki.

"É uma cadeia de fatos", acrescentou o advogado, após destacar que "era impossível derrubar Kuczynski" e expulsar do partido dez legisladores leais a Kenji sem que o indulto desmoronasse.

Keiko "deveria ter quebrado antes", acrescentou Nakazaki a respeito das lágrimas da poderosa líder opositora perante a imprensa.

- Aposentado da política -

Kenji também previa esse desenlace e o tinha advertido à irmã em maio.

"Se o meu pai voltar à prisão, nunca perdoarei a Força Popular", havia declarado o caçula do clã, afirmando que a "turbulência política" pela "disputa do poder" no partido de Keiko poderia derrubar o indulto.

Kenji foi o promotor do indulto e para consegui-lo, apoiou Kuczynski. Sua irmã não fez nada para consegui-lo por medo de que seu pai disputasse a liderança do partido, afirmam analistas.

Após deixar a prisão, Fujimori retirou-se para escrever suas memórias e se declarou aposentado da política, embora tenha mantido seu empenho em reconciliar seus filhos.

- Disputa familiar -

Kenji surpreendeu em 21 de dezembro quando, à frente de 10 legisladores fujimoristas leais a ele, salvou Kuczynski de ser destituído pelo Congresso.

Assim, rompeu a unidade monolítica do fujimorismo e despertou a ira de sua irmã, que mantinha encurralado Kuczynski desde que este assumiu, em julho de 2016.

Três dias depois, Kuczynski indultou o ex-presidente. Todos interpretaram o ato como um pagamento a Kenji por seu apoio crucial no Congresso.

Em março, um suplente de Keiko acusou Kenji de negociar votos para frustrar uma nova moção de vacância presidencial. Isso gerou um escândalo e levou à renúncia de Kuczynski.

Em junho, o Congresso suspendeu Kenji como parlamentar por negociar indevidamente votos para Kuczynski.

Keiko era a política mais popular do país, mas nos últimos dois meses seu apoio caiu para 11%, após suas disputas com o presidente Martín Vizcarra, o sucessor de Kuczynski.

Aparentemente ela calculou que encurralar Vizcarra lhe daria créditos políticos, como tinha ocorrido com Kuczynski, mas o tiro saiu pela culatra.


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