A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) lamentou a ausência de autoridades da Nicarágua na audiência para analisar as acusações de detenções arbitrárias e falta de acesso à Justiça durantes os protestos, onde denúncias de torturas foram relatadas.
"A ausência do Estado da Nicarágua é lamentável porque é uma violação de suas obrigações internacionais e também uma falta de respeito com a sociedade civil aqui presente", disse Francisco Eguiguren, relator da organização, durante a sessão.
Até agora, a repressão resultou em mais de 320 mortes, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), presentes na audiência
Durante a sessão realizada em Boulder, Colorado (Estados Unidos), o secretário executivo da CIDH, Paulo Abrao, disse que "claramente" a violência visa suprimir a dissidência e a oposição política.
"Não é racional ou lógico imaginar que manifestantes ataquem a si mesmos", argumentou Abrao.
O governo de Ortega acusa os opositores de serem "golpistas" e se recusa a reiniciar um diálogo com os setores que participaram dos protestos.
Entre os solicitantes estavam ONGs como a Anistia Internacional, o Centro de Justiça e Direito Internacional (Cejil), a Iniciativa Nicaraguense para Defensores de Direitos Humanos (IND) e o Movimento Autônomo de Mulheres-Nicarágua (MAM).
"Há torturas contra as pessoas detidas por protestar na Nicarágua. Essas pessoas se reconhecem como presos políticos, não têm acesso à defesa, há advogados de defesa que tiveram que deixar o país", denunciaram.
"Várias pessoas detidas hoje estavam conversando conosco. Estou pessoalmente angustiado. Continuaremos usando todos os nossos mecanismos", disse Antonia Urrejola, comissária da CIDH durante a sessão.
"Lamentamos que o Estado da #Nicarágua não esteja nesta audiência. O convidamos novamente para sentar e conversar com @CIDH e #Meseni sobre o número de mortos e pedimos que colabore", escreveu Urrejola no Twitter em referência ao Mecanismo Especial de Acompanhamento para Nicarágua.
Ao sair da audiência, Alejandra Manavella, representando o Cejil, disse que apesar da CIDH estar trabalhando há alguns meses na Nicarágua, ficaram muito impressionados com a informação apresentada.
Também se comprometeram a favorecer "todos os espaços que puderem com o Estado para tentar cessar a repressão e a violência, apesar de, mais uma vez, o Estado não estar presente neste espaço", acrescentou Manavella.
Nesta terça-feira (2), a União Europeia pediu a Manágua que "ponha fim ao uso desproporcional da força" e "liberte manifestantes pacíficos".
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