Um manifesto assinado por intelectuais, artistas e empresários se somou à crescente campanha nas redes sociais contra o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro, que lidera as intenções de voto para as eleições de 7 de outubro.
"Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos. Mas temos em comum o compromisso com a democracia", assinala o manifesto "Pela democracia, pelo Brasil", que começou a circular no domingo.
"O compromisso com a democracia, com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação...".
"Mas quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático", adverte o documento firmado por cerca de 400 empresários, economistas, intelectuais e artistas como Alice Braga, Chico Buarque, Caetano Veloso, Fernando Meirelles e Walter Salles.
"É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós", destaca o manifesto.
A carreira política de Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, é marcada por polêmicas envolvendo declarações misóginas, homofóbicas e racistas, além da defesa de métodos de tortura durante a ditadura militar (1964-1985).
"O erro da ditadura foi torturar e não matar" , disse em junho de 2016. "Deus acima de tudo.
Seu discurso, partidário da flexibilização do porte de armas para combater a criminalidade, atraiu amplos setores, mas também o transformou em um político de alta rejeição, deflagrando as campanhas #EleNão e #EleNunca, promovido pelo grupo de Facebook "Mulheres Unidas contra Bolsonaro".
O grupo criado contra o "machismo e a misoginia" tinha nesta segunda-feira quase três milhões de integrantes.
A campanha #EleNão foi ampliada com a criação de mais de 40 grupos de mulheres, evangélicos, ateus, judeus, cristãos e LGBTQ, todos declaradamente contra o candidato e com milhares de integrantes cada um.
Os artistas também se somaram às mobilizações virtuais, e a última a aderir foi Anitta, após ser questionada nas redes sociais.
- Protesto em mais de 70 cidades -
A adesão de celebridades nas últimas horas alimenta a manifestação "Mulheres contra Bolsonaro", convocada para sábado, 29.
Milhares já confirmaram sua presença nos protestos anunciados para 70 cidades do Brasil e uma dezena de países em todo o mundo, de Argentina a Portugal, passando por Estados Unidos, Holanda e Inglaterra.
Idolatrado por seus partidários, que o chamam de "mito", o deputado de 63 anos não participa de atividades públicas desde 6 de setembro, quando foi esfaqueado em um comício na cidade de Juiz de Fora.
Isto não impediu Bolsonaro de se manter ativo nas redes sociais e de liderar as pesquisas, o que parece lhe garantir uma vaga no segundo turno, em 28 de outubro.
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