As duas listas parlamentares que lideraram as eleições legislativas de maio no Iraque anunciaram neste sábado (8) que querem formar governo sem o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, que não conseguiu solucionar a crise em Basra.
Abadi queria manter seu cargo graças a um acordo que alcançou com a lista liderada pelo líder populista Moqtada Sadr, mas ele retirou seu apoio neste sábado.
Os deputados desta lista consideraram as explicações do governo ante o Parlamento "pouco convincentes" e pediram que "peça desculpas ao povo e renuncie imediatamente", após uma semana de protestos em Basra que deixaram 12 mortos e várias instituições incendiadas.
Pouco depois, a lista rival Aliança da Conquista, que reúne antigos combatentes antiextremistas, disse concordar com o grupo liderado por Sadr, segundo seu porta-voz.
Desde segunda-feira, o bloco de Sadr-Abadi e o bloco pró-Irã liderado pela Aliança da Conquista reivindicaram a maioria parlamentar necessária para formar o futuro governo, o que causa uma paralisia política agravada pela tensa situação em Basra.
Mas a tensão diminuiu na cidade litorânea. Na noite deste sábado não houve incidentes e o toque de recolher foi levantado. O tráfego de veículos foi retomando lentamente.
Os manifestantes da região reclamam sua parte da receita gerada pelo petróleo - 7,7 bilhões de dólares em agosto - em uma província que não sofreu a recente guerra contra o Estado Islâmico, mas que atravessa uma crise de saúde sem precedentes, agravada por um escândalo de contaminação da água que levou 30.000 pessoas ao hospital.
Desde terça-feira manifestantes atacam as sedes das instituições públicas, casas de autoridades e partidos. Na sexta (7), entraram no prédio de uma jazida petrolífera no norte de Basra.
Abadi pediu, neste sábado, ante o Parlamento, uma distinção entre o que denunciou como "a dimensão política" do movimento e o "assunto dos serviços públicos".
Um dos reflexos da tensão entre Bagdá e esta região costeira foi o duro enfrentamento entre Abadi e o governador de Basra, Asaad Al-Eidani, presente no Parlamento.
Este último acusou o chefe de governo de não ter considerado a amplitude da crise, enquanto Abadi respondeu que o lugar de Eidani era em Basra, mais do que em Bagdá.
Pelo menos 27 pessoas morreram desde o início dos distúrbios em julho - 12 delas nos últimos sete dias.
- Serviços públicos ineficazes -
Na manhã deste sábado, a situação continuava tensa, após uma noite marcada pela morte de três manifestantes e o incêndio de várias instituições, entre elas o consulado do Irã.
Quatro foguetes caíram durante a manhã no aeroporto de Basra, mas não afetaram o tráfego. A origem dos disparos é desconhecida.
O governo anunciou a destinação de novos fundos para amenizar a crise. Manifestantes garantem, porém, que os fundos de urgência - anunciados desde julho - ainda não chegaram.
Os iraquianos, que sofrem há anos com escassez de água e eletricidade, reclamam que o Estado não garante seu fornecimento.
Cansada de esperar por serviços públicos eficazes e pela demissão de líderes corruptos, a população de Basra retomou os protestos que haviam começado no início de julho e que foram temporariamente interrompidos por promessas do governo de investir milhões de dólares para melhorar a situação.
Essa raiva popular foi exacerbada por uma seca que reduz drasticamente a produção agrícola.
Centenas de manifestantes incendiaram inúmeras sedes de instituições públicas e de partidos políticos em Basra na sexta-feira.
Em Teerã, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Bahram Ghassemi denunciou um "ataque selvagem", segundo a agência de notícias iraniana Fars.